Título: França anuncia arsenal antidistúrbio
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Internacional, p. A12

Pacote inclui medidas duras para garantir segurança e a criação de instrumentos para ajudar moradores dos subúrbios

Numa tentativa de frear a onda de violência, o governo francês anunciou ontem uma série de medidas financeiras, políticas e administrativas para melhorar a vida dos subúrbios pobres de Paris e de outras cidades da França. Elas complementam o arsenal antidistúrbio anunciado na segunda-feira, que inclui o estado de emergência e o aumento do efetivo das forças de segurança. Em pronunciamento no Parlamento, o primeiro-ministro Dominique de Villepin anunciou um pacote de incentivos para combater o desemprego que em alguns desses bolsões de pobreza atinge 40%. De acordo com as promessas do governo, serão criadas agências de emprego em 750 regiões consideradas sensíveis. Outra providência anunciada pelo chefe do governo: reserva de 20 mil contratos de trabalho nos setores público e privados para os habitantes dessas regiões. Consta ainda do pacote a criação de 15 zonas francas urbanas, além das 85 existentes, para incentivar a instalações de indústrias nesses subúrbios. O governo destinará 100 milhões para aplicação em áreas de lazer, ginásios esportivos e clubes recreativos. Outros 5 milhões serão investidos nas Até a 1 hora de hoje, 327 veículos foram queimados e ocorreram 139 prisões maternidades dos subúrbios, pois em alguns hospitais foram fechados por falta de verba. Na área da educação, serão criados, a partir de janeiro, 5 mil novos postos de assistente pedagógico para 1.200 estabelecimentos de ensino das zonas pobres do país. Finalmente, para mudar a face deteriorada desses municípios, o governo anunciou a elevação de 25% das dotações da Agência Nacional de Renovação Urbana nos próximos dois anos. Villepin fez questão de ressaltar que a aplicação de todas essas medidas depende da volta à normalidade e respeito à lei. Reconheceu, porém, que vai 'levar tempo' para restabelecer a ordem. 'Isso porque enfrentamos uma batalha contra grupos e gangues organizadas e dispostas a resistir', explicou. Segundo assessores do primeiro-ministro, a eficácia das medidas anunciadas será testada na prática. É o caso do toque de recolher para conter a ação das gangues, que entrou em vigor à zero hora de hoje. No início da madrugada, a polícia anunciou ter constatado uma diminuição sensível da violência tanto nos subúrbios de Paris como no interior. Segundo o balanço policial, até a 1 hora local de hoje, 327 veículos tinham sido queimados (102 na região parisiense e os demais no interior) e 139 pessoas haviam sido detidas. Na noite de segunda para terça-feira, a polícia já havia constatado uma redução dos distúrbios na área de Paris, mas a violência no interior havia aumentado. Dos 1.200 veículos queimados nesse período em todo o país, mais da metade era de cidades do interior, ao contrário do que vinha ocorrendo desde o início da crise. As cidades mais atingidas foram Tour, Orleans e Bordéus, Lyon e Toulouse. Nesta última, um incendiário teve a mão dilacerada pela explosão de uma granada de gás lacrimogêneo. Do ponto de vista psicológico, acredita-se que o toque de recolher possa ter um efeito positivo - não só junto aos jovens, principalmente os menores de idade, mas também junto aos pais. As autoridades acreditam que os pais passarão a exercer um controle maior sobre os filhos para que não violem a medida de exceção. Os menores de idade surpreendidos nas ruas após o início do toque de recolher poderão ser condenados ao pagamento de uma multa e e/ou a 1 mês de detenção (ver quadro). Os pais poderão ser diretamente responsabilizados. Segundo uma pesquisa divulgada ontem à noite, três de cada quatro franceses apóiam a imposição do toque de recolher.