Título: Ortodoxos acham que BC exagerou na alta da Selic
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

RIO - Em tempos de tiroteio de diversos ministros e do PT contra a política econômica, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tem de se preocupar também com um outro tipo de fogo amigo. Para alguns dos mais respeitados economistas liberais do Brasil, que sempre apoiaram entusiasticamente a política econômica de Palocci, o Banco Central (BC) errou a mão no último ciclo de aperto da política monetária, praticando juros excessivamente altos. Com isso, o crescimento do PIB em 2005 deve cair para algo em torno de 3%, possivelmente menos. Entre os que vêm criticando o excesso de conservadorismo do BC estão três ex-presidentes do banco: Armínio Fraga, Affonso Celso Pastore e Gustavo Loyola. Outro ex-diretor do BC, Ilan Goldfajn, evita manifestar-se sobre o assunto, mas tende a ter opiniões próximas à de Armínio, seu sócio. Também engrossam o coro crítico Sérgio Werlang, diretor-executivo do Itaú, ex-diretor do BC e responsável direto pela implementação do sistema de metas de inflação no Brasil, e o economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton. Já o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, conhecido pela ortodoxia fiscal, teve um embate sério com o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Beviláqua, principal mentor da atual política monetária. Levy reclamou dos juros excessivamente altos.

Armínio disse em recente entrevista ao Estado que a inflação poderia cair mais do que o previsto em 2006, em um sinal de que o aperto da política monetária em 2005 passou da conta. Pastore, em recém-publicado artigo no Valor Econômico, com a sua parceira Maria Cristina Pinotti, escreve que "se o BC mantiver os juros altos atingirá uma inflação abaixo da média, mas sem glórias, pois os custos serão elevados".

Ele recomenda que o BC acelere o ritmo de redução da Selic já na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana.

Werlang acha que um dos principais erros de avaliação do BC, que o fez apertar a política monetária mais do que o necessário, foi confundir o crescimento da economia puxado pelo setor externo com uma expansão da demanda doméstica, que é inflacionária. Como resultado dos juros muitos altos, diz o executivo do Itaú, "o Brasil vai crescer muito menos do que a média dos emergentes em um ano em que todo o mundo foi beneficiado por um choque positivo". A sua previsão é de que o PIB cresça 2,9% em 2005. Ele é favorável a um corte de 0,75 ponto porcentual na Selic, esta semana.

Werlang critica a decisão do BC de baixar muito rapidamente a inflação, de 7,6% em 2004 para o mais próximo possível da meta ajustada de 5,1% neste ano, sem usar a banda de 2,5 pontos porcentuais em torno do centro. "A banda é para ser utilizada", ele critica, frisando que o sistema de metas é flexível, mas o uso ou não desta flexibilidade fica a cargo dos diretores do BC. Ele considera também que os altos juros reais são os responsáveis pela sobrevalorização do real, atraindo capitais externos de curto prazo.

Apesar de criticarem o excesso de conservadorismo do BC, quase todos estes economistas são contrários à idéia de flexibilização simultânea da política monetária e da fiscal, que vem sendo defendida pelos críticos da política econômica mais à esquerda.