Título: Juro cai só 0,5 ponto, prevê mercado
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

Embora os números da economia clamem por uma queda mais rápida da taxa Selic (hoje em 19% ao ano), o mercado aposta que o Banco Central (BC) vai manter mais uma vez o conservadorismo na reunião de amanhã e quarta-feira e reduzir os juros em apenas 0,5 ponto porcentual. A decisão, na opinião de economistas, é equivocada e poderá intensificar os prejuízos para o País, que já convive com economia desaquecida e câmbio supervalorizado.

Segundo levantamento feito pela Agência Estado, das 53 instituições pesquisadas, 51 acreditam que o BC vai cortar a Selic em 0,5 ponto. Mas as condições para uma redução maior já estão postas há algum tempo, afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Luis Suzigan. Ele também espera um corte de 0,5 ponto, porém acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) possa começar a experimentar uma redução mais rápida dos juros em dezembro.

Não faltam razões para uma decisão mais agressiva, afirmam os economistas. A primeira delas, além da inflação sob controle, é o visível desaquecimento da atividade econômica. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que desde junho a produção industrial vem patinando. Em setembro, houve queda de 2% em relação a agosto, que já havia se mantido praticamente estável comparada a julho. Além disso, o grau de utilização da capacidade instalada da indústria também caiu. Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em setembro o índice ficou em 80,1%, no menor nível desde outubro de 2003.

Até mesmo o crédito consignado, que durante o primeiro semestre contribuiu para manter o nível de consumo, está desacelerando, afirma o economista Marcelo Alain, professor do MBA Fipe/USP. ¿O aposentado fez empréstimo e antecipou as compras, mas agora tem menos renda disponível, o que pode reduzir o crescimento de bens de consumo.¿ Com tudo isso, a expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre venha abaixo do esperado.

Outro ponto importante é o atual nível do câmbio. O Banco Central bem que tem tentado conter a valorização do real comprando dólar no mercado, mas a ação não tem surtido o efeito desejado. As operações da moeda americana já elevaram as reservas para cerca de US$ 46 bilhões e podem chegar a US$ 50 bilhões até o fim do ano. ¿Esse sistema não está funcionando. É preciso atacar a raiz do problema, que é o juro alto¿, afirma Alain.

Só neste ano o dólar comercial caiu 16,01% e no período de um ano, 19,73%, para R$ 2,229. O problema é que essa cotação reduz a competitividade do produto brasileiro no exterior, afirma o economista Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo ele, vários setores estão reduzindo a produção e empregos por causa da atual cotação do dólar. ¿Estamos pagando o preço da parcimônia de ontem. Não há motivos para o Copom não reduzir em 1 ponto porcentual a Selic na reunião desta semana.¿

Na avaliação de Luis Suzigan, além do bom desempenho das exportações, essa movimentação do dólar é resultado das especulações de investidores estrangeiros no mercado futuro. Com os juros americanos e europeus nos menores níveis da história, eles procuram melhor rentabilidade em países emergentes, e o Brasil encabeça o ranking dos mais procurados, já que tem a maior taxa nominal e real do mundo. Segundo dados da GRC Visão, a taxa de juros real (descontada a inflação projetada para 12 meses) do País está em 13,6% ao ano, mais que o dobro dos 6,6% da China, que vem em segundo lugar.