Título: Kirchner encontra Chávez, e vai pedir mais dinheiro
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2005, Economia & Negócios, p. B3

BUENOS AIRES - O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, se reúne hoje com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para fechar uma série de lucrativos acordos comerciais para a Argentina, o que inclui a polêmica venda de um reator nuclear. Além disso, Kirchner e Chávez analisarão a entrada da Venezuela no Mercosul e a construção de um oleoduto gigante na América do Sul. O presidente argentino também pretende recorrer novamente à ajuda financeira de Chávez, já que o venezuelano, com seus petrodólares, adquiriu desde meados deste ano US$ 900 milhões em títulos públicos argentinos. O encontro entre os dois presidentes será na cidade de Puerto Ordaz, na Venezuela. Fontes do governo afirmam que a intenção de Kirchner é que Chávez o salve novamente do sufoco financeiro e adquira US$ 3 bilhões nos próximos meses. Com esse dinheiro, Kirchner poderia pagar boa parte da dívida de US$ 5 bilhões da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que vence até 2007, ano em que conclui o atual mandato presidencial. Isso daria a Kirchner - cuja equipe econômica não está conseguindo retomar as discussões para fechar um acordo com o Fundo - uma posição mais forte para negociar e adquirir mais autonomia em relação ao organismo financeiro.

Chávez, que chama esses títulos de "Bônus Kirchner", tornou-se seu principal garoto-propaganda. Freqüentemente, afirma publicamente que esses papéis são mais confiáveis do que os títulos do Tesouro de "Mister Danger" (Senhor Perigo), como chama o presidente americano George W. Bush. A visita de Kirchner à Venezuela está sendo encarada como um sinal de distanciamento do governo argentino dos EUA e do FMI. De quebra, a aliança Kirchner-Chávez está sendo encarada como a formação de uma frente decidida a resistir à idéia da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Kirchner terá hoje uma recepção com toda a folclórica efusividade do governo Chávez. Na véspera de seu desembarque em terras venezuelanas, Kirchner foi homenageado por milhares de habitantes de Caracas, que marcharam pelas ruas da cidade para dar-lhe as boas-vindas antecipadas. A chegada de Kirchner vai ocorrer poucas horas depois de Chávez ter disparado mais uma saraivada de acusações contra o presidente Bush, a quem chamou de "assassino, genocida e louco".