Título: Depois das demissões, diretoria se reúne para definir rumo da Varig
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2005, Economia & Negócios, p. B5

RIO - Após a demissão de quatro membros do Conselho de Administração da Varig, na sexta-feira, os que restaram e seu novo presidente, Humberto Rodrigues Filho, se reúnem hoje para definir o futuro da companhia. O presidente-executivo, Omar Carneiro da Cunha, deverá ser destituído. Fontes do setor aéreo apontam o curador da controladora Ruben Berta (FRB) e vice-presidente comercial, Marcelo Bottini, como seu provável substituto. A nova controladora da Varig, a estatal portuguesa de aviação TAP, já escolheu os executivos que comandarão as duas subsidiárias, VarigLog, empresa de logística e cargas, e Varig Engenharia e Manutenção (VEM), que também passarão por mudanças. Na VarigLog, entram Luiz da Gama Mór, vice-presidente da TAP, e Michael Connoly, diretor-financeiro da companhia aérea portuguesa. Na VEM, o comando ficará a cargo de António Sobral, que dirige a TAP Manutenção e Engenharia.

Cunha também era do Conselho de Administração da Varig e foi deposto do cargo junto com o presidente dessa instância, David Zylbersztajn, e os conselheiros Marcos Azambuja e Eleazar de Carvalho Filho. Este último foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que apóia o saneamento financeiro da Varig. Os quatro foram destituídos pelo Conselho de Curadores da FRB, composto por sete representantes da controladora da Varig, que os havia contratado em meados de maio para elaborar o plano de reestruturação.

Humberto Rodrigues Filho foi funcionário da Varig por cerca de 20 anos, quando atuou na logística - antes da criação da VarigLog -, dirigida pelo engenheiro Fernando Pinto. Mais tarde, Pinto viria a se tornar presidente da Varig e, agora, comandante da TAP. Rodrigues Filho também é amigo pessoal do brasileiro Luiz da Gama Mór, vice-presidente da TAP.

As demissões pegaram o mercado de surpresa, embora alguns de seus credores já soubessem que aconteceriam. Os motivos, oficialmente, foram as demissões de 156 pilotos na quarta-feira passada, o que levou o sindicato a pedir a destituição do conselho de administração; e a "continuidade do Fato Relevante", publicado no dia 13 de outubro. Por meio desse documento, a fundação oficializou a venda de ativos da Varig e permitiu a participação de credores nos conselhos de administração das empresas do Grupo, processo que teve início agora.

Fontes do mercado, porém, sustentam a existência de outros motivos, nascidos em função de problemas de relacionamento com os curadores da FRB e que envolvem o pagamento de US$ 2,5 milhões para o fundo americano de investimentos Matlin Patterson, para renovar a carta de intenções de compra da VarigLog, única saída antes de a TAP se firmar como investidora no processo de recuperação judicial da empresa. Essa negociação, feita à revelia da fundação, não vingou.

O motivo que faltava foi a divulgação, na quinta-feira passada, do crescimento de 155% no prejuízo de R$ 778,2 milhões da Varig de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período do ano passado.

A VarigLog e a VEM foram compradas há cerca de duas semanas pela TAP por US$ 62 milhões, por meio de um plano elaborado pelos conselheiros que foram demitidos semana passada. O dinheiro foi usado para evitar a paralisação da companhia aérea brasileira em novembro, quando venciam dívidas com empresas americanas de arrendamento de aviões (leasing).

Esses credores estavam pedindo o arresto de até 40 aeronaves da Varig, mais da metade da frota total de 78 unidades, sendo que 15 já estão paradas por falta de pagamento pelos serviços de manutenção.