Título: Companheira de Celso Daniel apóia tese de crime comum e defende Sombra
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Nacional, p. A8

Ao depor ontem na CPI dos Bingos, Ivone Santana, namorada do prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002, disse ter certeza de que ele foi vítima de um crime comum. Ela criticou a "insistência" dos irmãos de Celso, João Francisco e Bruno Daniel, em relacionar o crime a um esquema de corrupção instalado na cidade, conforme afirmam ter ouvido de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula - em sua opinião, essa denúncia não procede. Ivone fez de seu depoimento uma peça de defesa para Sérgio Gomes da Silva, conhecido por Sombra, que chegou a ficar seis meses preso como mandante do crime; para Gilberto Carvalho, a quem trata por "Gil" e para o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que acompanhou a investigação do assassinato a pedido do PT. A respeito de Sombra, disse não ter o "sentimento" de que ele esteja envolvido no crime. Confusa, a depoente abusou de declarações incompletas ou de frases de efeito. Sobre o comportamento do PT em relação ao crime, por exemplo, foi incisiva ao afirmar que "o partido vive muito dentro dele mesmo". Questionada se Daniel foi mesmo torturado, como consta no laudo do perito Carlos Delmonte, rebateu: "Celso foi morto com oito tiros e agora vou me apegar ao laudo? Ele foi torturado? Tortura psicológica, com certeza, tortura é uma coisa relativa que pode ser usada tanto de um lado como de outro, para que se pretende qualificar uma tortura?"

Contou que uma vez o atual presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, a viu com Daniel em um cinema, sem segurança. E, dias depois, em novembro de 2001, ao se encontrarem com Lula na prefeitura de Santo André, este disse para o prefeito: "Você precisa parar com essa frescura e tem de andar com segurança". Os senadores ficaram igualmente perdidos com suas afirmações. A certa altura, por exemplo, ela disse que sabia que "duas pessoas não gostavam de Daniel de jeito nenhum", mas não disse seus nomes. Mais adiante, informou ao senador José Jorge (PFL-PE) que seriam um maestro e um jornalista. José Jorge e o senador Eduardo Suplicy perguntaram sobre os grampos feitos pela Polícia Federal em que ela aparece sendo orientada por Gilberto Carvalho, pelo Sombra e por um tal de "doutor Ruy" a proceder como uma viúva chorosa. Ivone disse que nunca ouviu essas fitas. Também negou ter dado entrevista à apresentadora Hebe Camargo, como aparece nos grampos da PF. Outra de suas queixas é a de nunca ter sido chamada pelo Ministério Público para depor.

É a segunda vez que Ivone comparece à CPI. Na primeira, em 4 de outubro, foi levar solidariedade a Greenhalgh, que estava depondo. O presidente e o relator da CPI, senadores Efraim Morais (PFL-PB) e Garibaldi Alves (PMDB-PB), afirmaram que o depoimento pouco acrescentou à apuração.