Título: Viúva de Toninho reafirma que crime foi encomendado
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Nacional, p. A8

À CPI, ela diz que sucessora retomou contratos superfaturados com empresas de limpeza e empreiteiras, vetados pelo prefeito

Roseana Garcia, viúva do prefeito assassinado de Campinas, Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, reafirmou ontem na CPI dos Bingos ter a convicção de que Toninho foi vítima de crime encomendado. Ela disse que a vice-prefeita que o sucedeu, a petista Izalene Tiene, retomou contratos supostamente superfaturados, e vetados pelo prefeito, com empresas de limpeza pública e empreiteiras. Roseana informou que, após a morte de Toninho, a prefeitura concedeu alvará de funcionamento para uma casa de bingo no centro da cidade, o que tinha sido negado pelo prefeito.

Toninho foi morto com três tiros, em 10 de setembro de 2001, por volta das 22 horas, quando tinha acabado de sair de um shopping center em Campinas. Quatro meses depois, foi assassinado o prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em condições até hoje não esclarecidas. Nos dois casos, o partido e a polícia defendem a tese de crime comum.

Roseana lamentou o fato de o PT não ter se empenhado para apurar o assassinato, mesmo tendo ela apelado pessoalmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. "Minha maior indignação é não ter conseguido uma investigação decente", protestou.

Ela disse que o PT indicou o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) para acompanhar o caso, mas recusou a ajuda, depois de saber que ele endossava a tese de crime comum.

A viúva pediu a Bastos para acompanhar a investigação, tendo, na ocasião, lhe entregado cópia do processo. "Foi quando ele deu um depoimento dizendo que o inquérito mais parecia uma peça de ficção", contou.

Segundo Roseana, Lula chegou a prometer, num comício em Campinas, em 2002, que daria prioridade à investigação do caso. "No dia da posse, vim a Brasília, Lula me viu, nós nos abraçamos e choramos. Eu me enchi de esperança", afirmou.

Ainda assim, ela destacou que não conseguiu entregar ao presidente o abaixo-assinado da população de Campinas pedindo a reabertura do caso. "Ele me atendeu durante cinco minutos, 9 horas da noite, mas disse que não receberia o abaixo-assinado, que tive de entregar a Márcio Thomaz."

EXECUÇÃO

Roseana disse que jamais concordou com as versões do assassinato apresentados pela Polícia Civil de Campinas e pela Delegacia de Homicídios de São Paulo. Segundo ela, afirmaram em Campinas que ele foi morto por dois dos quatro jovens "executados" dias depois pela polícia em Caraguatatuba. "Dois deles não tinham nem passagem pela polícia", alegou.

A viúva destacou que um garçom, identificado como "Jack", relatou ter ouvido pessoas acertando a morte de Toninho em um bingo da cidade, mas nem a polícia nem o MP acreditaram.

O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), interrompeu o depoimento para dizer que Bastos lhe telefonou anunciando que teria encontrado uma maneira de passar o caso para Polícia Federal. Pediria que o Conselho Nacional de Defesa da Pessoa Humana (CNPH) investigasse a "chacina" em Caraguatatuba. Acrescentou que caberia a um juiz decidir pela entrada da PF no caso. Roseana respondeu: "Essa informação não procede." E disse que já recorreu a um juiz e ele negou ter essa competência.