Título: Leão Leão usou notas frias para movimentar R$ 2,8 mi
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Nacional, p. A6

Quebra de sigilo apontou três empresas que, em 2002, receberam recursos de valores semelhantes pelo fornecimento de notas fiscais falsas para a empreiteira

A quebra dos sigilos bancários da empresa Leão Leão, acusada de pagar um mensalinho para quatro prefeituras de São Paulo - entre elas a de Ribeirão Preto, durante a gestão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci -, mostra que três empresas que seriam as fornecedoras das notas frias para o esquema têm saques mensais registrados, com valores sempre aproximados. Ao todo, elas aparecem como sacadoras de R$ 2,8 milhões, durante 2002. As investigações da CPI dos Bingos, do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil mostram que as empresas - Comercial e Transportadora Luizinho, Twister e Kaf Brasil - forneciam notas para justificar a saída do dinheiro que entrava na Leão Leão em contratos superfaturados com as prefeituras. Assim, o dinheiro era devolvido em propinas aos prefeitos.

O Estado teve acesso à quebra de sigilo da Leão Leão obtida pela CPI dos Bingos. Mostra que a Comercial Luizinho, uma empresa que fornece cimento e cal, da cidade de Dois Córregos, é a maior sacadora das três: no total, R$ 1,9 milhão.

REGISTROS

Há registros de retiradas em nome da empresa em 29 datas diferentes durante 2002. No dia 11 de março, por exemplo, há 13 saques, somando R$ 201 mil. Quase um mês depois, no dia 10 de abril, novamente aparecem 13 saques em nome da empresa, num total de R$ 179 mil.

O delegado seccional de Ribeirão Preto, Benedito Antonio Valencise, afirmou que a empresa é uma firma pequena, que fornece sacos de cimento. Um ex-executivo da Leão Leão, ouvido pelo Estado, afirmou que a empresa não trabalha com sacos de cimento e sim compra o produto a granel. "É uma quantia muito grande para uma empresa pequena", diz o delegado.

No caso da Twister também há saques mensais com valores muito aproximados. Em alguns casos, eles coincidem com as datas de saques da Comercial Luizinho. No dia 18 de fevereiro de 2002, por exemplo, a quebra de sigilo mostra que foram lançados 20 saques em nome da Twister, somando R$ 297 mil. No mês seguinte, no dia 11 de março - mesma data em que aparecem saques para a Comercial Luizinho -, há 12 retiradas de R$ 13. 500 para a empresa, num total de R$ 162 mil. Em 10 de abril - outra data que coincide com os pagamentos da Comercial Luizinho - foram 15 retiradas, totalizando R$ 202 mil. Exceto um pagamento, todos os demais são no valor de R$ 13.200.

FORA DA LISTA

A empresa, que ainda está sendo investigada, seria uma fornecedora de combustível para avião, produto fora da lista de compras da Leão Leão, segundo o ex-executivo, que não quer ter o nome divulgado.

A Kaf Brasil, que também não foi identificada pela polícia, aparece sempre com saques no valor de R$ 13.500.

O que chama atenção dos membros da CPI é o fato de que a maioria dos saques era feita diretamente no caixa bancário que funciona dentro da sede da Leão Leão, em Ribeirão Preto.

O ex-assessor de Palocci Rogério Buratti, que denunciou o esquema do mensalinho, disse que esses valores eram sacados por pessoas da própria empresa e eram depois enviados para as prefeituras de Ribeirão Preto, Matão, Sertãozinho e Monte Alto. No caso de Ribeirão, R$ 50 mil eram destinados ao prefeito, inclusive Palocci, e depois eram repassados para o PT. Segundo ele, algumas das empresas laranjas forneciam as notas cobrando 2% em cima do valor total.