Título: Satisfeito com Lula, Dirceu diz que País 'julgará a oposição'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Nacional, p. A5

Para ex-ministro, PSDB e PFL têm violado as regras de convivência política para desestabilizar o governo do PT

Um dia depois de assistir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva prever a cassação do seu mandato na Câmara por motivos políticos, o ex-ministro-chefe da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) disse que o Brasil julgará a oposição por suas ações "desestabilizadoras". Ao chegar ao plenário da Câmara, na noite de ontem, Dirceu afirmou ter ficado "satisfeito" com a entrevista de Lula ao programa Roda Viva e saiu em defesa do presidente. "Acredito que o Brasil julgará também a oposição, e não só o governo, nas eleições de 2006", disse o ex-ministro."Vamos combater a corrupção, apurar as denúncias, acabar com o caixa 2? Vamos. Agora, vamos inviabilizar o País , trabalhar pela instabilidade do governo, propor o impeachment do presidente só com objetivo eleitoral, só para lutar pelo poder?", perguntou, em tom de indignação.

Dirceu abriu um sorriso quando indagado sobre a enfática defesa que Lula fez dele no Roda Viva. "O presidente falou aquilo que é verdade: não existem provas contra mim", repetiu o deputado. "Existe um senso comum de que vou ser cassado, mas o que está se tratando é de um banimento político. Eu não peço para que não investiguem minha vida. Só peço que se faça justiça."

Com o argumento de que tucanos e pefelistas têm "violado" as regras de convivência política para desestabilizar o governo, o ex-ministro mencionou os últimos episódios protagonizados pelo líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), e pelo deputado ACM Neto (PFL-BA) - que ameaçaram dar uma "surra" no presidente Lula - como exemplos de comportamentos inaceitáveis.

"É até um insulto à inteligência dos cidadão a oposição - depois de dizer que vai surrar o presidente Lula e que ele é bandidão - afirmar agora que ele está acirrando a disputa política. O que está acontecendo no País é a violação de toda e qualquer regra mínima de civilidade", criticou Dirceu.

No Salão Verde da Câmara, o deputado falou como ministro. "Não se pode aceitar que, a partir de denúncias de corrupção em um ou outro órgão público, se queira taxar o governo de corrupto", insistiu Dirceu. "Nem que, a partir destes fatos, se inicie uma tentativa de inviabilizar os projetos que o Palácio do Planalto manda para o Congresso. Temos um presidente no comando e são evidentes os avanços na área social e na área econômica."

CRÍTICA

Poucas horas antes, porém, em conversa reservada com 20 reitores de universidades federais, Dirceu criticou a rigidez da política econômica. Ao abordar as restrições orçamentárias para setores estratégicos, como a educação, ele deu estocadas na condução da economia. "O superávit primário é mais realista do que o rei: poderia ter sido de 3,75% do PIB, e não 4,25%", comentou.

Dizendo que o governo perdeu "disputas estratégicas" nos 30 meses em que ele permaneceu no comando da Casa Civil, Dirceu também lembrou suas divergências com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Fomos prisioneiros de uma visão muito ortodoxa da política econômica",observou. Questionado pelos reitores se era uma espécie de primeiro-ministro quando estava no governo, Dirceu respondeu que não. "Lula governa,sabe governar e acompanha tudo", garantiu.