Título: 'Basta um superávit de 3,75%, igual ao de FHC'
Autor: Vânia Cristino, Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

Luiz Marinho, ministro do Trabalho, batalha contra tese de ampliar o ajuste fiscal e nega fazer parte da ala gastadora do governo

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou, na semana passada, após u ma reunião ministerial, que acha "insanidade" a idéia de aprofundar o ajuste fiscal, defendida nos bastidores pelos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo. Na contramão, ele batalha nos bastidores por propostas que ampliariam o gasto público ou diminuiriam as receitas. Defende, por exemplo, elevar o mínimo e corrigir a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). Marinho não dá números. Admite que R$ 345,00 para o mínimo é um bom chute e uma correção de 10% é algo razoável, mas que ainda vai discutir com Palocci. Se dependesse de Marinho, o superávit primário (a economia de recursos públicos feita para pagar os juros e reduzir a dívida) seria reduzido para 3,75% do PIB, "o mesmo nível do governo Fernando Henrique". Mas reconhece que essa proposta não tem chance de prosperar: o nível de 4,25% "está consolidado".

O ministro foi acusado recentemente pelo PFL de estar por trás dos cartazes afixados em Brasília em que o presidente do partido, o senador Jorge Bornhausen (SC), aparece vestido de nazista. Ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Marinho também figurou no noticiário internacional há duas semanas, por supostamente haver participado de uma festa com prostitutas patrocinada pela Volkswagen. O ministro negou as duas coisas. A seguir, trechos da entrevista:

Como vai ficar o mercado de trabalho até o final do governo Lula?

O mercado de trabalho vai acompanhar o crescimento da economia. Não tem milagre. Se a economia não crescer não tem crescimento do emprego.

O sr. fala que o ideal é crescer 5% ao ano. Mas existe um limite acima do qual o crescimento pressiona a inflação e o Banco Central eleva os juros. Como se faz para romper isso?

Evidente que tem um limitador nisso. Precisamos de investimentos. O temor do Banco Central é permitir o crescimento da demanda sem condições de oferta para não explodir a inflação. Isso não é temor só do Banco Central, é de todo cidadão. Mas não podemos controlar a inflação e asfixiar a economia.

O sr. acha que está faltando criatividade ao Banco Central?

Eu considero essa gestão do presidente Lula como uma transição, seguida a oito anos do governo anterior. Foi necessário um pé no freio (em 2003), porque a economia estava desarranjada. Mas o Brasil de hoje está em outras condições. É o melhor momento dos últimos 25 anos. No entanto, precisamos de investimentos. Sem isso, estaremos limitados a ficar segurando o freio da economia.

O que o sr. acha da proposta de elevar o superávit primário para perto de 5% do PIB?

O aumento do superávit é uma insanidade. Não podemos querer manter 6% até dezembro. Nem 5%. Vamos ficar nos 4,25% que já está bom demais

E os juros?

Entramos num processo de redução dos juros, que é a base do crescimento para o ano que vem. Mas atrasamos três meses esse processo. Economizamos no superávit e gastamos mais pagando juros. A inflação já estava sob controle há algum tempo. Mas esperamos um processo de inflação negativa para poder reduzir os juros.

O sr. tem sido apontado como um ativo integrante da ala gastadora do governo. O que acha disso?

Gastador, eu? Mas tenho tão poucos recursos. Não tem esse clima no governo, um lado gastador e outro economizador. O papel do Palocci, da Receita, do Planejamento é difícil e, às vezes, incompreendido. Tem de fechar a conta.

Se houvesse recursos disponíveis e perguntassem se o dinheiro deveria ser usado para investir em infra-estrutura ou aumentar o salário mínimo, o que o sr. escolheria?

Se tiver de reduzir o superávit, que reduza o superávit. Entre economizar 4,25% (do PIB) e não aumentar o mínimo, diminui para 4% o superávit e aumenta o mínimo. Entre deixar ir para 4,5% o superávit e não corrigir a tabela do IR, mantém os 4,25% e corrige a tabela.

Até que ponto o primário poderia ser reduzido?

Os 3,75% praticados pelo Fernando Henrique estão de bom tamanho.

E qual a receptividade dessa proposta entre seus colegas de governo? Nenhuma. Os 4,25% estão consolidados. Não estamos discutindo isso. O que estamos discutindo é o seguinte: não tem necessidade de aumentar mais.

O sr. foi acusado de estar por trás daqueles cartazes com uma fotomontagem mostrando o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, vestido de nazista. A que o senhor atribui isso?

À criatividade das pessoas. Não vou comentar isso.

O PFL divulgou nota pedindo a sua saída.

Estou muito importante para o PFL. Eles estão muito preocupados comigo.

Deve ser porque todos dizem que o presidente Lula escuta o sr.

Gostaria que ele me escutasse mais. Olha, eu não gosto desse tipo de coisa, cartazes... Mesmo quando a CUT fez aqueles cartazes de "traidores do povo"... Nunca gostei disso. Está errado. Não agrega .