Título: Escolha do Brasil como sede deixou bispos surpresos
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2005, Vida&, p. A30

É o que relata o arcebispo de Vitória da Conquista, presente no último sínodo em Roma, no qual o papa anunciou a decisão

A escolha de Aparecida para sede da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano surpreendeu os bispos do continente, a começar pelo presidente do organismo, o cardeal chileno Francisco Javier Errázuriz Ossa, arcebispo de Santiago, que pretendia levar a reunião para sua cidade. "Os países indicados eram Argentina, Chile e Equador, mas o papa preferiu o Brasil", informou o segundo vice-presidente do Celam, d. Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Vitória da Conquista (BA). Essa decisão trará, como ele afirma nesta entrevista, resultados importantes para o catolicismo brasileiro, sobretudo para a reconquista dos fiéis que se afastaram da Igreja.

A escolha de Aparecida para sede surpreendeu os bispos?

Para mim, foi uma grande surpresa. Na assembléia do Celam, realizada em 2003, havia sido aprovada a indicação de Quito (Equador). Diante do quadro de saúde do papa João Paulo II, para que se pudesse contar com sua presença, houve também a indicação de Roma. Surgiram depois objeções a Quito por causa da altitude. Na assembléia de maio deste ano, o Celam retomou o assunto e, pela ordem, foram feitas as seguintes indicações: Argentina, Chile e Equador (numa cidade sem problema de altitude). Entretanto, alguns defendiam Roma.

O sr. esperava que o papa viesse para a reunião?

Durante o Sínodo dos Bispos, em Roma, de 2 a 23 de outubro, um grupo de cardeais latino-americanos apresentou a Bento XVI algumas ponderações a favor da realização da conferência em um país latino-americano. Ali mesmo, ele decidiu que o evento, ao qual ele deseja comparecer, se realizaria no Brasil, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Todos foram pegos de surpresa. Eu só esperava a inclusão do Brasil em sua agenda de viagens.

Três das quatro conferências anteriores tiveram a presença do papa - de Paulo VI em Medellín (1968) e de João Paulo II em Puebla (1979) e em Santo Domingo (1992). O que significa a presença do papa?

A presença do papa, ao menos na sessão de abertura, tem enorme significado. O discurso inaugural do papa sempre foi de imensa importância, marcando rumos e abrindo caminhos. Certamente, Bento XVI deixará sua marca pessoal.

O tema - Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para Que Nele Nossos Povos Tenham Vida - tem a ver com a reconquista de católicos que abandonaram a Igreja?

Não se pode negar que a evasão de católicos para outras confissões religiosas e o afastamento daqueles que se declaram sem religião não estejam nos preocupando. Mas preocupa-nos também a qualidade de vida cristã dos católicos. Daí a escolha do tema que enfatiza o aspecto dos discípulos e da missão. Cristão verdadeiro tem de se tornar discípulo de Jesus Cristo. E discípulo verdadeiro se sente impelido para o anúncio missionário. Aliás, há uma bela proposta de não concluir a 5ª Conferência apenas com um documento, mas instaurar em toda a América Latina um grande processo missionário, não só para reconquistar católicos afastados, mas sobretudo para revitalizar a fé dos praticantes.

Qual é a sua expectativa em relação aos reflexos da conferência para o Brasil?

A conferência em Aparecida e a presença do papa trarão muitíssimos resultados para a Igreja no Brasil e até mesmo para a vida em nosso País. Para que possamos colher frutos abundantes, temos de investir fortemente na preparação do terreno. Aliás, já se iniciou essa preparação com a recente publicação do Documento de Participação, que visa a envolver as bases da Igreja em todo o continente num grande processo de reflexão, discussão, debate e aprofundamento.