Título: Filho de banco de esperma busca o pai
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2005, Vida&, p. A27

Por meio de um teste de saliva e usando sites de pesquisa genealógica, ele chegou ao doador do banco ao qual a mãe recorreu

Usando nada mais que um swab (haste para coleta de materiais) com saliva e a internet, um rapaz de 15 anos rastreou seu anônimo pai doador de esperma, segundo detalhes divulgados na revista britânica New Scientist. Ao enviar um swab com amostra retirada de dentro da sua bochecha para testes genéticos, o adolescente usou sites de pesquisa genealógica para rastrear seu pai ao procurar por um homem com cromossomo Y compatível, pois esse é transmitido pela linhagem masculina.Esse trabalho detetivesco terá implicações importantes para homens que doaram o esperma na condição de anonimato e esperam que sua identidade permaneça secreta. A notícia deve causar um aumento das tentativas de outros filhos de doadores de achar os pais genéticos. A habilidade do rapaz em usar dados de testes genéticos publicamente disponíveis e mecanismos de busca na internet sugere que as autoridades policiais poderiam fazer o mesmo para obter o sobrenome de suspeitos potenciais com amostras de DNA coletadas na cena do crime.

O rapaz enviou a amostra de saliva no fim do ano passado para um serviço online de genealogia por testes de DNA denominado FamilyTreeDNA.com. Por uma taxa de US$ 289, pôs seu código genético disponível para buscas de outros membros do site. Embora seu pai genético nunca tivesse fornecido seu DNA ao site, nove meses depois o rapaz foi contatado por dois homens que estavam na base de dados e cujos cromossomos Y batiam com o seu. Os dois homens não se conheciam, mas compartilhavam o sobrenome, ainda que com grafia diferente, e a similaridade genética de seus cromossomos Y sugeria que havia uma chance de 50% de que os dois e o rapaz compartilhassem o mesmo pai, avô ou bisavô.

O sobrenome era a chave de que o rapaz precisava. Sua mãe tomara conhecimento da data e local de nascimento e do curso que o doador havia feito na faculdade, apesar de seu nome ter permanecido em segredo. Com essas informações, o rapaz recorreu a outro serviço de internet, Omnitrace.com, e conseguiu informações sobre todos que nasceram no mesmo lugar e na mesma data que o pai. Só um homem tinha o sobrenome que ele obtivera anteriormente e dez dias depois o adolescente fez contato, amigavelmente, com seu pai genético.

"Esta é a primeira vez em que fico sabendo que isso foi feito", diz Bryan Sikes, geneticista da Universidade de Oxford e presidente da OxfordAncestors.com, que oferece testes genéticos para pesquisas de ancestralidade. "Há 15 anos, quando o pai doou o esperma, ninguém poderia ter imaginado que isso seria possível." A notícia deve causar inquietação a quem doou esperma em países onde o anonimato ainda é comum, como os EUA. "Os bancos recrutam doadores e lhes prometem anonimato. Não creio que essa promessa será válida agora", diz Wendy Kramer, do DonorSiblingRegistry.com, serviço via internet que promove encontro de crianças com seus irmãos.