Título: Enquanto passeatas pedem paz, ministro do Interior insiste na linha dura
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2005, Internacional, p. A20

O gabinete de crise do governo francês reuniu-se durante todo o dia de ontem sob o comando do primeiro-ministro Dominique de Villepin na tentativa de buscar uma solução para a onda de violência que envolve os subúrbios parisienses desde o fim de outubro. No entanto, as esperanças de que seria possível conter o movimento de revolta eram poucas e tudo indicava que a violência continuaria se alastrando não só pela Grande Paris como também por cidades do interior (a chamada França profunda). O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, está sendo fortemente criticado por diversos segmentos da sociedade francesa. Entre eles, a Conferencia Episcopal da França, que esteve reunida ontem e não poupou críticas à ação do governo. Segundo a organização religiosa, "a repressão não é uma resposta adequada à evolução dramática da sociedade francesa".

Mas Sarkozy prometeu ontem "restabelecer a ordem e a tranqüilidade", confirmando sua preferência pela linha dura: "A polícia é a polícia da república. Ela garante a ordem republicana. Se ela não fizer isso, qual ordem a sucederá? A das máfias ou a dos integristas." Segundo o ministro, " o governo é unânime na manutenção da política de firmeza".

Já o primeiro-ministro, que privilegia a estratégia do diálogo, se reuniu ontem com os prefeitos das cidades mais envolvidas, que poderão desempenhar um papel importante no contato com suas populações.

Afinal, entre os principais protagonistas dessa violência encontram-se filhos de munícipes, trabalhadores e até funcionários municipais. Villepin recebeu também, separadamente, líderes religiosos e presidentes de associações de jovens e moradores dessas cidades.

Em Aulnay e Clichy-Sous-Bois, duas das cidades mais afetadas pelos distúrbios, os prefeitos organizaram passeatas silenciosas pregando o retorno à calma, mas algumas pessoas ouvidas se mostraram pessimistas, convencidas de que a violência deverá continuar, pelo menos enquanto não se encaminharem soluções definitivas para os problemas enfrentados. A onda de violência atinge principalmente os bairros pobres dos subúrbios de Paris onde jovens franceses de origem estrangeira, especialmente do Magreb e de outras partes da África, se sentem excluídos da sociedade francesa.

Qualquer solução, destacam os analistas, será longa e custosa e serão necessários alguns anos para que se possa obter resultados concretos. A solução para muitos problemas depende de grandes investimentos e da criação de infra-estrutura adequada. Por isso, Labi Chiouebi, um dos líderes de associação mais duros, lembra que é preciso que o governo, antes de reprimir, assuma sua responsabilidade por ter aplicado políticas que levaram a essa situação.