Título: Violência cresce na periferia e polícia reforça proteção nos Champs-Elysées
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2005, Internacional, p. A20

Na pior de nove noites de distúrbios, 897 veículos são queimados e aumenta temor de que 'febre dos subúrbios' chegue ao centro de Paris

A estratégia do governo francês para conter a violência urbana que tomou conta dos subúrbios de Paris, aliando repressão e diálogo, não está produzindo os efeitos esperados. A cada dia aumenta a temperatura da chamada "febre dos subúrbios". Apenas na madrugada de ontem - a mais violenta das nove noites consecutivas de distúrbios -, pelo menos 897 carros foram incendiados (um quarto deles em cidades do interior) e a polícia deteve 258 pessoas. O número de prisões para interrogatório aumentou, apesar de os confrontos diretos entre os depredadores e a polícia terem diminuído. O objetivo das autoridades é identificar as pessoas por trás dessas manifestações de violência, pois o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, duvida que o movimento seja espontâneo.

A febre se alastra perigosamente, não se limitando apenas à região parisiense. Numerosos incidentes do mesmo tipo ocorreram também em Bordéus, Lille, Rouen, Toulouse, Estrasburgo, Dijon, Lyon e Pau.

Também no norte do país, nas cidades entre Lille e Dunquerque, repetem-se os distúrbios. Teme-se que a violência possa alcançar rapidamente a chamada "Paris intramuros", até agora preservada. A cidade conta com 2,4 milhões de habitantes, enquanto a Grande Paris reúne mais de 10 milhões de pessoas e inclui as cidades mais afetadas pelos distúrbios.

Normalmente, nos fins de semana, a população jovem da periferia se dirige para o centro da capital francesa em busca de diversão. Esses jovens escolheram a região dos Champs-Elysées - onde se encontra uma das mais bonitas e movimentadas avenidas do mundo - como sua preferida, freqüentando seus bares, cinemas, clubes e restaurantes.

A ameaça de que a revolta acabe chegando ao centro da capital é real. Um jovem manifestante, detido pela polícia em Bobigny, mas dirigindo-se aos jornalistas presentes, não hesitou em confirmar que esse era um dos objetivos dos manifestantes: "Se Sarkozy continuar privilegiando a repressão , nos próximos dias estaremos todos sobre os Champs Elysées", afirmou ele. Alguns analistas já traçam paralelos entre a possível ocupação do centro de Paris pelos revoltosos e a tomada da Bastilha.

Diante desse temor, um cinturão policial foi formado nas portas de Paris e na Gare du Nord, a estação ferroviária que concentra o maior número de trens de subúrbio, para aumentar o controle e evitar a penetração de grupos suspeitos.

Um dos incidentes da madrugada de ontem ocorreu em Aubervilliers, onde um edifício residencial teve de ser esvaziado pelos bombeiros porque um grupo de revoltosos ateou fogo a carros na garagem do prédio. As chamas puderam ser dominadas antes que se espalhassem para o edifício, mas 45 veículos foram destruídos pelo fogo.