Título: PT vai despedir 50 para reduzir despesas
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2005, Nacional, p. A14

Expectativa é que demissões resultem em economia de 40% na folha e ajudar a pagar dívidas do partido

Depois da descoberta do esquema que ajudou a abastecer o caixa 2 petista com dinheiro público, a cúpula do PT - partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - promete fazer um rigoroso ajuste fiscal. Sob nova direção, o PT já admite que não tem outra saída e vai dispensar nesta semana cerca de 50 dos 125 funcionários que trabalham na sede nacional, em São Paulo. Crítico ferrenho do superávit primário no governo Lula, o PT também apelará para uma alternativa ortodoxa, impensável tempos atrás: a economia de gastos para pagamento dos juros da dívida. "Nossa meta é a redução de despesas da ordem de R$ 300 mil por mês", diz o novo presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP). Deputado federal, Berzoini assumiu o cargo há 15 dias e nega conhecer os meandros do escândalo que desembocou na atual crise. Não acredita na existência do mensalão e faz de tudo para resgatar a imagem do partido, batendo boca com parlamentares do PSDB e do PFL. "Estão querendo criar confusão política", afirma.

A folha salarial do partido, hoje em R$ 450 mil mensais, sofrerá uma tesourada de 40% com a dispensa de funcionários nos próximos dias. No mês passado, o PT trocou o luxuoso escritório em Brasília - que consumia R$ 25 mil mensais de aluguel - por um conjunto de salas mais modesto. Não foi só: demitiu 17 de seus 26 colaboradores.

"De todos os cortes, para nós esse é sempre o mais dramático", comenta Paulo Ferreira, secretário de Finanças e Planejamento e sucessor de Delúbio Soares de Castro, o tesoureiro expulso da sigla há duas semanas.

Para ilustrar o descalabro financeiro que tomou conta do PT desde que Lula assumiu o governo, o partido foi obrigado a saldar dívidas atrasadas até mesmo com o INSS e com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que somavam R$ 1.078.290,25. "Nós temos, hoje, uma receita incompatível com o tamanho da nossa estrutura", observa Ferreira.

No inventário dos compromissos contratuais do PT, a nova direção descobriu um débito "contabilizado" de R$ 60 milhões e um orçamento líquido, previsto para 2006, de metade desse valor. A cifra inclui dívidas com fornecedores e três empréstimos do PT - com o Banco Rural, o BMG e o Banco do Brasil. Tarso Genro, ex-presidente da sigla, dizia que o rombo poderia ultrapassar R$ 160 milhões.

O partido só reconhece três financiamentos com instituições bancárias, embora o empresário Marcos Valério assegure que muitos outros alimentaram o caixa 2 petista, operado por ele e por Delúbio. "Quem é esse senhor?", ironiza o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar.

Na avaliação do presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), "tudo indica que os empréstimos não passaram de fachada" para encobrir desvios de recursos públicos. "Mas não há provas", rebate Berzoini.

MÁQUINA DE CAFÉ

Em tempos de reengenharia, o PT formou uma espécie de grupo de trabalho para conduzir o seu "plano de reestruturação"após a consultoria feita em agosto pela Trevisan Associados, que não revelou o valor do contrato, alegando sigilo.

No rastreamento do déficit, descobriu-se, por exemplo, que a megalomania petista atingiu até o cafezinho. Na sede nacional do partido há dez máquinas de café expresso, que devem ser devolvidas amanhã. "Vamos acabar com esse contrato de locação, que consome R$ 2 mil todo mês", jura Ferreira. O novo tesoureiro diz que a crise provocou a revisão de todos os contratos do PT. O gabinete de crise petista identificou R$ 17, 2 milhões de pagamentos atrasados a fornecedores. Até agora, renegociou R$ 529.031,34.

Uma máquina de xerox empoeirada foi mandada para o conserto, substituindo outras alugadas, que custavam R$ 5 mil por mês. No esforço para o ajuste fiscal, passagens aéreas e despesas com hospedagem de dirigentes têm de ser autorizadas com antecedência por Berzoini e Ferreira.

Berzoini chegou mesmo a lançar uma campanha de arrecadação de recursos, que irá do próximo dia 13 até 13 de dezembro. A meta é arrecadar R$ 13 milhões. Treze é o número do PT. "Não haverá dinheiro de pessoa jurídica e ninguém poderá ser constrangido a doar nada", argumenta o presidente do PT. "Estamos nos adequando à realidade e voltando às nossas origens", completa o secretário de Organização, Romênio Pereira.