Título: Na lista de Valério, até diretor do Rural
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2005, Nacional, p. A8

Entre 26 sacadores identificados pelo "Estado", e ainda não rastreados pela CPI, também constam empresários e servidores públicos

Entre sacadores e beneficiários das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza ainda não identificados pela CPI dos Correios há funcionários públicos, empresários, um prefeito, um ex-assessor da Secretaria de Comunicação do Governo (Secom) e um diretor do Banco Rural. O Estado conseguiu identificar 26 deles. O rastreamento, feito nas últimas duas semanas, também esclareceu casos simples, como os de publicitários, advogados e funcionários da SMPB, pagos por serviços prestados à agência. A reportagem identificou o endereço de outros nove sacadores, mas não conseguiu encontrá-los. A lista levantada por técnicos da CPI, porém, é bem maior. Não há um número fechado, mas se estima que haja pelo menos 50 sacadores ainda não identificados pela comissão. Alguns não têm outro registro além do nome, outros aparecem com dados incompletos.

Dos 26 nomes, 9 são empresários. Há, por exemplo, transferências para as contas pessoais de Fernando Cesar Rocha Pereira e Cláudio Rocha Pereira nos valores de R$ 100 mil e R$ 74 mil, respectivamente. No cadastro da Receita Federal, ambos são sócios em duas empresas - a já desativada Tuxy Refrigerantes e a C & F Consultoria, em funcionamento. Os telefones de cadastro deles estão desativados. A CPI investigará suas transações com Valério.

RURAL

Outra empresária bem aquinhoada por Valério é Patrícia Coutinho Nunes da Silva, dona de 90% das cotas da empresa mineira Planeta Agência de Viagens e Turismo. Ela recebeu, em sua conta pessoal, pelo menos R$ 626 mil da SMPB. A reportagem deixou recado na empresa, mas não houve retorno.

João Heraldo dos Santos Lima, também na lista, é diretor do Banco Rural e foi diretor de Política Monetária do Banco Central durante o governo Itamar Franco. Foi, ainda, secretário de Fazenda de Minas durante a gestão do tucano Eduardo Azeredo, acusado de envolvimento no valerioduto.

Lima recebeu uma transferência eletrônica da conta da SMPB, de R$ 25 mil, em 16 de maio de 2003. "Vendi quatro terrenos para Cristiano Paz e Ramón (sócios de Valério)", diz o diretor do Rural. "No total, a transação saiu por R$ 122 mil."

POLÍTICOS

O levantamento indica ainda políticos sem expressão no cenário nacional. Eduardo Passos Coutinho Correa de Oliveira, prefeito de Água Preta (PE), recebeu R$ 50 mil em 28 de junho de 2003. O presidente da Câmara de São Sebastião do Paraíso, em Minas, vereador Antonino José Amorim, R$ 32.480, tudo em transferências eletrônicas.

O vereador foi localizado por telefone na pequena cidade mineira. "Não tem nada disso. É maluquice. Não conheço essa turma." Minutos depois, ele ligou para a reportagem: "Realmente posso ter recebido da SMPB. Sou dono de uma rádio e de uma TV e tenho contrato com a Assembléia Legislativa. Deve ser dali que veio."

Alarico Naves Assumpção, ex-assessor da Secom, recebeu R$ 10 mil. Depois de deixar o governo, no ano passado, foi trabalhar com a SMPB. A transferência ocorreu quando ele já era funcionário de Valério.

O levantamento indica transferências maiores, como a de R$ 167 mil para Maria Celeste Vieira Lima, funcionária da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Ninguém atende no telefone de sua casa.

Há sacadores que não reconhecem os depósitos. Petronio Miglo, que sacou R$ 20 mil, foi localizado em Teófilo Otoni, Minas. "Ele está aposentado e fica quietinho. Isso é invenção. Não tem como ele ter recebido nada", garantiu a mulher dele, que não quis se identificar.

Chama a atenção o fato de Francisco Melo Saraiva, que recebeu R$ 380 mil, estar declarado morto pelo INSS. Não se sabe se morreu antes ou depois de receber o dinheiro. Outro caso curioso é o de Vinicius Pereira, que recebeu R$ 45 mil. Estudante de medicina, ele tinha 23 anos na época.