Título: Na utopia de arquitetos,a zona norte cosmopolita
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2005, Metrópole, p. C3

Projetos prevêem o fim do aeroporto,menos construções e mais áreas verdes

Um projeto inclui um lago formado pelas águas de um despoluído Rio Tietê e três construções planejadas como cartões-postais da cidade. O outro propõe galeria de arte e biblioteca no Campo de Marte, além de inúmeras quadras esportivas. Nos dois, o aeroporto deixaria de funcionar como tal e o terreno ganharia muito, mas muito verde. Entre os sonhos expostos por Rogerio Batagliesi e Vera Leme na 6ª Bienal de Arquitetura ¿ e a possível realidade de uma operação urbana ¿, os moradores da zona norte torcem para ver melhorias na região saírem do papel.

O projeto que Batagliesi levou à Bienal criaria um Central Park para a capital, uma enorme mancha verde entre o Campo de Marte e o Horto. Para formar o lago, um dos destaques do desenho, seria necessário inundar a Marginal, entre as Pontes do Limão e das Bandeiras. Os carros usariam uma passagem subterrânea.

¿Sei que é utópico, pois o projeto exigiria muitos recursos e desapropriações, além da necessidade de a limpeza do Tietê estar concluída, assim como as obras do Rodoanel¿, explica Batagliesi. ¿Mas é preciso pensar em soluções grandiosas. Não podemos mais fazer ações acupunturais.¿

Os planos começaram a tomar forma após uma reportagem do Estado. Em 2004, Batagliesi e outros 12 arquitetos desenvolveram projetos de soluções utópicas para a cidade. De lá para cá, a utopia foi ampliada. Hoje inclui, além de um portal para a zona norte, um museu aeronáutico e um edifício-ponte, ligando os lados da Marginal. ¿Seria um conjunto arquitetônico para dar caráter cosmopolita à capital.¿

Morador da região há 33 anos e representante do Conselho Comunitário Santana/Tremembé, José Carlos Jorge de Moraes, de 57, vê com interesse vários aspectos da utopia. ¿Seria bom delimitarmos uma área para a implantação de um projeto utópico e aí começar a efetuar intervenções pontuais, mas com uma visão do todo e regras definidas¿, explica.

¿Estaríamos lidando com o aproveitamento do entorno do Tietê, principalmente entre as Pontes Cruzeiro do Sul e do Limão, abrangendo Anhembi, Campo de Marte e Parque da Juventude para projetos ligados ao verde, aos esportes e ao turismo.¿

ESVAZIAR

Em vez de sugerir mais edificações, Vera Leme propõe a desconstrução. ¿Precisamos esvaziar um pouquinho São Paulo¿, diz a arquiteta paulistana que vive na Itália. Também ela se ressente da falta de um grande projeto para a cidade. ¿Há projetinhos de embelezamento aqui e ali, com pracinhas e pequenas ilhas que separam o tráfego, mas nada que faça do verde uma prioridade.¿

Vera teve como foco a transformação do Campo de Marte em um grande parque, integrado com o sambódromo e o Anhembi. Nas bordas, ficariam os equipamentos esportivos ¿ os hangares virariam quadras cobertas e a pista de pouso passaria a servir para cooper ¿ e os de serviço, como estacionamentos e restaurantes. A faixa intermediária seria destinada a atividades culturais e a zona central ficaria livre para o verde.

¿Para um aeroporto, a área é pequena, mas o trecho daria um parque duas vezes maior que o Ibirapuera¿, afirma a arquiteta. ¿O aeroporto tem de sair, porque avião pode decolar daqui ou dali.¿