Título: Rebelados não têm trabalho, não estudam e vêm de famílias destruídas
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2005, Internacional, p. A32

Os primeiros julgamentos, em regime de urgência, nos tribunais de cidades mais atingidas pela violência, entre elas Clichy-sous-Bois, Montfermeil, Bobigny, Blanc Mesnil, Stans, etc... já permitem traçar um perfil dos jovens rebeldes. São na maioria filhos de famílias destruídas, sem escolarização normal, desempregados, enfrentando problemas com a Justiça. Magid Mansouri, de 18 anos, francês de origem norte-africana, condenado a 9 meses de prisão com sursis por participação nos atos de vandalismo em Clichy, está rompido com a família e preferiu não pedir ajuda a ela nesta emergência. Órfão de mãe, chegou a morar com quatro famílias sucessivamente. Hoje vive sozinho e estagia como ajudante de cozinheiro, sonhando que um dia terá o próprio restaurante.Magid diz que o qfue o motivou a ir à manifestação foi "curiosidade e excitamento".

Aos 20 anos, Radjabou Mohammed, também não quis contatar a família quando foi preso, por medo da reação dos pais. Ele foi condenado a 6 meses de prisão com sursis. Originário das Ilhas Comores, país que deixou aos 14 anos, tendo vivido num internato na Líbia para apreender a falar árabe, ainda antes de se instalar em Paris.

Xavier Marester, 18 anos, já com passagens anteriores pela polícia apresenta um perfil mais duro do que os demais . Ele foi condenado uma primeira vez a três meses de reclusão em razão de seu passado judiciário, marcado por ter praticado atos de violência com arma contra um policial. Ele negou toda participação em atos de violência nesse novo episódio. Seu passado escolar é caótico, mal completou o curso primário, obtido depois de freqüentar as classes dos alunos mais difíceis do colégio. Indagado pelo juiz sobre sua presença no tribunal , não hesitou em responder : " Liberdade, igualdade, fraternidade. Tenho o direito de andar por onde quiser."

Claude Furtado, 18 anos, já passou diversas vezes pelo tribunal juvenil por pequenos roubos. O tribunal o condenou a 10 meses, 3 de reclusão. Claude também abandonou a escola logo após completar o primário e ultimamente trabalhava num McDonald's. Foi preso com cápsulas de gás lacrimogêneo no bolso. Disse ao juiz que não sabia quem havia posto o gás ali.