Título: 'Gentalha' sofre com desemprego
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2005, Internacional, p. A32

O insulto é do ministro Sarkozy aos moradores de Sevran, um dos municípios com maiores dificuldades financeiras na Grande Paris

Com 50 mil habitantes, Sevran é uma das cidades mais pobres da Grande Paris. Ela fica na região de Seine-Saint-Denis, o antigo cinturão vermelho de Paris - um dos últimos municípios que ainda mantém um prefeito filiado ao Partido Comunista Francês, Stéphane Gatignon. Entre os municípios que circundam a capital francesa, Sevran ocupa o 57.º lugar na lista de maiores dificuldades financeiras. O desemprego atinge 20% de seus moradores, enquanto a taxa nacional é de 9,6% - já muito elevada para os padrões da União Européia, da qual a França, ao lado da Alemanha, é apontada como carro-chefe da comunidade.

Essa foi a cidade que recebeu com vaias o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, que em resposta classificou os manifestantes que o rodeavam de "gentalha", agravando a rebelião.

Sevran não difere muito das numerosas cidades que cercam Paris: grandes blocos de cimento, mas sem vida social, profissional, associativa, etc. A população tem de sair e buscar na capital recursos para sobreviver. Gatignon lembra que quando foi eleito, em 2001, a cidade tinha 120 policiais. Hoje não passam de 80.

Ele reclama da falta de recursos para fazer uma reforma urbana adequada. "Não adianta transformar um galinheiro de 12 andares em vários galinheiros de 3 andares", disse ele ao criticar planos urbanísticos apresentados pelas autoridades de Paris. A arrecadação também é prejudicada pela ausência de empresas de peso. As existentes ali pagam impostos num montante de apenas 23 milhões, enquanto cidades próximas chegam a arrecadar até 400 milhões para obras de infra-estrutura.

Uma vez por semana o prefeito Gatignon recebe moradores do município, ocasião em que entra diretamente em contato com grandes dramas humanos. Uma mulher separada com filhos que não tem onde morar. Centenas de desempregados sem nenhum recurso, ameaçados de despejo por não pagarem o aluguel.

"Precisamos fazer um pouco de assistência social", disse o prefeito. "Não estamos em Neuilly (subúrbio luxuoso e mais próximo de Paris), onde a população passa creme no carro para brilhar mais."

Nas últimas noites, funcionários da prefeitura e moradores vêm andando com extintores nas mãos, ajudando os bombeiros a apagar os incêndios provocados pelas dezenas de jovens furiosos que saem às ruas. "Na quinta-feira, graça a eles pudemos evitar a destruição de uma escola", diz o prefeito.