Título: Amigo de Palocci admite ser dono de avião do caso Cuba
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2005, Nacional, p. A26

Empresário diz que em 31 de julho de 2002 emprestou Sêneca, supostamente usado para trazer dólares para o PT

O empresário José Roberto Colnaghi, amigo do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, confirmou ontem ser o proprietário do avião Sêneca PT-RSX, que, segundo a revista Veja, teria transportado entre US$ 1,4 milhão e US$ 3 milhões provenientes de Cuba para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Colnaghi admitiu ter "emprestado" o avião - avaliado em US$ 350 mil - em 31 de julho de 2002, mas garante que não se lembra para quem. As informações são de sua assessoria de imprensa, que explicou: Colnaghi costumava emprestar o avião a muitas pessoas da região, para viagens rápidas, por isso não se recorda do episódio com precisão. Segundo a assessoria, o Sêneca foi cedido para um amigo direto do empresário, que o repassou a uma terceira pessoa.

Colnaghi informou que um piloto "freelancer", Alécio Fongaro, foi responsável pelo vôo. Esse nome, porém, é desconhecido entre pilotos, donos de aviões, mecânicos e freqüentadores de aeroclubes da região. O empresário negou, também, ter qualquer conhecimento sobre o uso de seu avião para transportar dólares de Cuba.

Segundo Colnaghi, em nenhum dia dos meses de agosto e setembro de 2002 o Sêneca fez a rota São Paulo-Brasília-Campinas. A data mais próxima que o avião pousou em Brasília foi em 31 de julho, alegou. Mesmo assim, garantiu ele, não teria decolado de São Paulo.

SUMIDO

Segundo a Veja, os dólares teriam sido transportados no Brasil entre agosto e setembro daquele ano. A denúncia sobre a suposta doação teria sido confirmada por dois ex-assessores de Palocci na prefeitura da cidade de Ribeirão Preto - o advogado Rogério Buratti e o economista Vladimir Poleto.

Colnaghi informou que está levantando no Departamento de Aviação Civil (DAC) o relatório dos vôos, incluindo o do dia 31 de julho de 2002, para descobrir quem usou o aparelho.

Desde o surgimento das denúncias, Colnaghi não é visto em Penápolis, cidade do interior de São Paulo onde mora e possui negócios, como a Asper Brás, uma das maiores empresas de tubos de irrigação do País. Rubens Coimbra, dono da Manave, oficina de aviões instalada no Aeroclube da cidade, diz que já se acostumou a receber jornalistas atrás do Sêneca.

Sobre o paradeiro do avião e do empresário, porém, nem os funcionários da Asper Brás, nem a assessoria de Colnaghi souberam dar informações.

A denúncia virou o assunto preferido nas rodas de amigos no centro da cidade. "Não se fala em outra coisa aqui", garante o aposentado Henrique Cardoso, de 72 anos. Em um dos jornais da cidade, surge outra versão: a de que o dinheiro não teria sido repassado pelo governo de Cuba, mas pela Venezuela.

POLETO

Poleto pediu ontem habeas corpus ao Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de liminar, pleiteando o direito de ficar em silêncio no depoimento que deverá prestar na CPI dos Bingos na terça-feira. O ministro Marco Aurélio Mello foi sorteado o relator do pedido.

Poleto solicitou, também, para ser assistido no depoimento por seu advogado e quer a garantia de que não será preso em flagrante pela CPI.

No pedido, a defesa do economista sustenta que Poleto deve ser ouvido como investigado, já que a comissão determinou a quebra de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico.