Título: O advogado Jefferson volta à ativa, em caso de assassinato
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2005, Nacional, p. A23

Ex-deputado será assistente de acusação no julgamento de fazendeiro acusado de mandar matar filha de ex-vereador em MT

Quase dois meses após ser cassado, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) retomará a atividade de advogado criminalista, da qual se afastou durante a carreira parlamentar, no próximo dia 11. Ele atuará como assistente de acusação num caso de homicídio na cidade de Vera (MT), a 500 km de Cuiabá. O convite veio do ex-vereador Augusto Alba (PPS), que o convocou para trabalhar no julgamento do fazendeiro Vilmar Taffarel, acusado de contratar o pistoleiro que matou, com um tiro no peito, sua filha Keila Suele Alba, de 12 anos, em novembro de 2001. O crime teve componente político - o alvo do tiro era Alba, por causa das denúncias que fez contra a prefeita Izane Coneratti (PSDB), irmã de Taffarel. "Conheci o Roberto Jefferson pela TV,quando aconteceu a denúncia do mensalão", contou Alba ao Estado. "Senti uma firmeza muito grande, ele fala com coragem e é habilidoso. Isso me levou a pensar: com certeza, ele terá coragem de fazer justiça num crime bárbaro."

Por meio do deputado Ricarte de Freitas (PTB-MT), que tem base eleitoral em Sinop, a 80 km de Vera, contatou Jefferson. "Eu liguei e disse: em vez de cantar, você vai fazer júri", desafiou Freitas. Jefferson topou fazer o júri de graça.

Foi Alba quem reconheceu, "pelo olhar", o pistoleiro Charles Borges da Silva, preso por assalto, 8 meses após o assassinato. "Nunca vou esquecer daquele olhar", disse. No dia do crime, ele estava em casa com Keila e o filho Ricardo, quando bateram no portão. A menina disse ao pai que "um senhor" pedia um copo d'água. "Pedi que ela levasse, mas ela falou: Estou com medo." O pai levou, ele mesmo, a água. "Saí e, a cinco metros, vi a pistola", contou. O então vereador tropeçou, caiu e escapou do primeiro disparo, correndo para dentro.

"Eu não imaginava que ele fosse invadir a casa", contou. Mas o pistoleiro entrou disparando. Alba se escondeu embaixo de uma cama e o pistoleiro atirou duas vezes no escuro. "Quando acabou, me examinei, para ver onde tinha sido atingido. Aí minha filha disse: 'Pai, foi em mim que ele acertou'".

Alba escapou ileso; Ricardo levou um tiro de raspão na cabeça; mas Keila foi atingida no peito e morreu 45 minutos depois. Taffarel se diz inocente e isenta a irmã. Antes do crime, Alba tinha acusado Izane Coneratti de desviar dinheiro público e outras irregularidades na prefeitura. Jefferson diz ter participado de mais de 200 júris, mas há 15 anos não participa de um julgamento.