Título: Mídia é pior do que a Inquisição, diz Chauí
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2005, Nacional, p. A18

Para filósofa, CPIs também não resolvem, pois visam os indivíduos, não o sistema

Roldão Arruda

A filósofa Marilena Chauí, professora da Universidade de São Paulo (USP) e uma das principais intelectuais do PT, disse ontem que a única possibilidade de o País enfrentar a atual crise política e outras que devem advir é por meio de uma "reforma política, republicana e democrática". Numa palestra para quase 200 operários, durante o 5.º Congresso dos Metalúrgicos do ABC, ela disse que as CPIs não resolvem os problemas políticos porque só visam os indivíduos, não o sistema, miram os efeitos, não as causas: "É preciso passar da crítica moralizante da corrupção à crítica cívica da instituição." Para a filósofa, o sistema político provoca problemas de "governança" para os partidos que vencem as eleições mas não conseguem maioria parlamentar. "Passa-se facilmente da negociação para a negociata".

Depois de pincelar sua exposição em vários momentos com críticas ao papel da mídia na cobertura da crise, a filósofa foi instada por um dos ouvintes a estabelecer relações entre o papel atual da mídia e o da Santa Inquisição, no século 15. Ela respondeu que hoje as coisas são piores dos que naqueles tempos: "As regras eram mais claras: "A Igreja operava por meio do medo, de forma clara e sem disfarce. As pessoas sabiam com o que estavam lidando."

Hoje, segundo a filósofa, "a mídia opera pela acusação sem provas", e, nos momentos em que seus interesses são contrariados, "ela alucina e passa a operar por meio da destruição das instituições e das pessoas."

A filósofa disse aos operários não ter dúvidas de que a atual crise política foi encomendada e é orquestrada de forma cuidadosa, tendo até prazos definidos para acabar. Também afirmou que ficou mais convencida disso após ter lido a entrevista de um lobista na revista Caros Amigos, na qual ele revelou como deflagrou a crise.