Título: Conclusões de relator da CPI são precipitadas, diz Berzoini
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2005, Nacional, p. A18

Presidente do PT alega que não há provas de que BB teria abastecido caixa 2 do partido

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, definiu ontem como "precipitadas" as conclusões do relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de que R$ 10 milhões do Banco do Brasil foram utilizados para abastecer o caixa 2 do PT, num esquema que envolveu a agência de publicidade DNA, de Marcos Valério "A investigação deve ser aprofundada, mas é precipitado fazer uma ligação direta entre os procedimentos equivocados da relação do Banco do Brasil com a Visanet e a alimentação de um esquema de corrupção", afirmou. "Não há prova, só as investigações poderão indicar se é verdade ou não."

O presidente do PT disse que o Tribunal de Contas da União (TCU) já tem uma auditoria sobre as ações do BB e o repasse à DNA Propaganda não tem origem nos cofres públicos. "O dinheiro é de uma empresa privada (Visanet). Não quer dizer que a denúncia não seja grave, porque o poder de indicar (a agência de publicidade) é do banco público, ainda que o dinheiro não seja do banco", disse.

O BB administra os recursos do Fundo de Incentivo ao Marketing da Visanet, de onde saiu o dinheiro para as agências. O banco é dono de 31,99% das ações da empresa.

Preocupados, integrantes da cúpula petista preferiram não se manifestar antes de obter detalhes das investigações da CPI. A denúncia, acreditam, pode dar novo fôlego às CPIs dos Correios e do Mensalão. As acusações são perigosas porque podem derrubar o argumento de que não existe corrupção, apenas caixa 2.

Na lógica da cúpula do PT, só o caso do ex-secretário-geral Silvio Pereira, que recebeu de presente um jipe Land Rover da empresa GDK, poderia configurar corrupção. Ainda assim, dizem, não há prova de que ele tenha interferido em negociação com a Petrobrás.

O governo escalou ontem o deputado Carlos Abicalil (PT-MT), um dos integrantes da CPI dos Correios, para contestar Serraglio.

Por determinação do ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, o petista convocou uma entrevista para acusar Serraglio de "precipitação e imprudência" na acusação contra o Banco do Brasil.

Segundo Abicalil, a DNA tinha em várias contas correntes um total de R$ 46 milhões, em 26 de março de 2004, dia em que a Tolentino Associados, uma das empresas de Valério, obteve empréstimo ao Banco BMG no valor de R$ 10 milhões. "Só no Banco do Brasil, a DNA tinha na conta corrente R$ 23 milhões. Ou seja, Valério não precisava pedir o empréstimo para esquentar o dinheiro.

Além disso, não se pode afirmar que esse dinheiro na conta corrente da DNA no Banco do Brasil era todo público. Marcos Valério tinha vários clientes privados", alegou. "Não se pode afirmar também que os R$ 10 milhões transferidos ao BMG eram dinheiro público."