Título: 'No governo, há espaço para debater'
Autor: Leonencio Nossa e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Nacional, p. A4

Ao lado dos ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que encara com naturalidade a ocorrência de divergências entre os integrantes do primeiro escalão da administração federal. Palocci e Dilma têm protagonizado uma ruidosa disputa pública pelos rumos da política econômica. 'No meu governo, há espaço como nunca houve na República brasileira para que os ministros possam ter pensamentos diferenciados, possam exercitar a vontade de fazer o debate', disse Lula, ao discursar durante a sanção da Medida Provisória 255, a chamada MP do Bem. 'Mas existe um momento em que esse debate será transformado em políticas públicas. E quando isso é transformado em políticas públicas de governo acabou o debate.' Lula reafirmou ainda que cabe a ele em última instância tomar decisões referentes à economia. 'Neste governo não tem política econômica do ministro Palocci. Neste governo tem política econômica do governo. Se ela for bem, todo mundo ganha. Se for mal, todo mundo perde.

Isso é da história', afirmou Lula, que antes de encerrar o discurso deu um recado: 'O ministro Palocci é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim'.

Dilma e o ministro da Previdência, Nelson Machado, também presente à solenidade, mereceram referência de Lula: 'Da mesma forma que o Palocci é o meu ministro da Fazenda, a Dilma é minha ministra da Casa Civil, o Nelson é o meu ministro da Previdência, e são pessoas que foram escolhidas para fazer o que estão fazendo'.

Lula afirmou que não mudará a condução da política econômica por razões eleitorais. 'Não vai ter tsunami aqui. Isso aqui tem comando, mestre, contra-mestre, toda a tripulação de que o navio precisa para andar com tranqüilidade', disse. 'Não cortejei, nem cortejarei o êxito fácil, trabalho para as conquistas duradouras para o País.

Que outros se deixam levar por meras motivações eleitorais, eu não farei.' Previu ainda que a economia brasileira não sofrerá solavancos preocupantes: 'Se alguém ainda quiser continuar especulando sobre economia, por favor, se dirija à Bolsa de São Paulo e deixe o governo fazer as coisas que vem fazendo.'

Ao adotar uma retórica de candidato, atacou os que criticavam seu governo, assegurando que ele 'se transformou em um sucesso', com o maior crescimento dos últimos dez anos.

Lula atribuiu ao comando o fato de, apesar das denúncias contra o governo, o Brasil continuar crescendo. 'Que país cresceria tanto com o denuncismo?', indagou.

'Mesmo com o denuncismo, que até agora não provaram, o dado concreto é que a economia brasileira continua funcionando, os empregos continuam aparecendo, o PIB vai crescer e vamos crescer mais o ano que vem', assegurou.

'Isso não depende de mágica, depende do nosso otimismo, da credibilidade que a gente der ao projeto que estamos construindo e eu estou convencido de que o Brasil entrou numa rota de desenvolvimento.'

Segundo ele, ' política econômica é muito menos mágica e muito mais seriedade, participação da sociedade'. O presidente criticou também o PT e partidos aliados, por não defenderem a política econômica. 'Faço parte de um partido que, às vezes, tem vergonha de assumir determinadas posturas.

Eu, às vezes, venho de um movimento social que às vezes tem vergonha. Às vezes, muitos partidos aliados têm vergonha', comentou ele, ao insistir que 'não está preocupado com as eleições do ano que vem'.