Título: Palocci aceita negociar convite para ir a CPI
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Nacional, p. A5

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pediu um tempo aos senadores de, pelo menos uma semana, para definir sua convocação na CPI dos Bingos. Ele aceita negociar um convite para comparecer à comissão, mas não quer ir agora e sim em uma data a ser combinada, pois considera que, primeiro, é preciso encontrar uma solução para a disputa interna no governo em torno do reforço fiscal. Nas conversas que teve ao longo do dia com os políticos para evitar a votação hoje do requerimento de sua convocação na CPI dos Bingos, o ministro deixou claro que está chateado com o clima interno no governo. Antes da reunião da CPI dos Bingos, marcada para hoje, a oposição, também dividida, tentará resolver seu próprio dilema: se aceita a proposta de transformar a convocação em convite ou contribui para fragilizar a posição de Palocci, provocando reações no mercado financeiro. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), terá um encontro com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). O grupo do pefelista é mais resistente e defende a votação do requerimento, sem fixar, porém, a data da convocação.

Apesar de fragilizado dentro do próprio governo, Palocci tem obtido afagos de setores da oposição para quem o presidente Lula não fora enfático em sua defesa ontem. Se insistirem na convocação, o PSDB e o PFL temem ser responsabilizados pela demissão de Palocci e pelo caos na economia. Em caso de afastamento de Palocci, os oposicionistas não querem um sucessor que assuma a política de aumento de gastos por conta das eleições de 2006. Ontem, o presidente do Senado, Renan Calheiros, fez a defesa explícita de Palocci, mesmo considerando necessário fazer ajustes na economia. "Ninguém melhor que o ministro Palocci para fazer os ajustes", disse, ressaltando que "a gastança" não é uma alternativa.

"A política econômica é defensável, produziu resultados e quem acha que ela já deu o que tinha que dar está redondamente enganado", continuou. Do lado do governo, coube ao senador Tião Viana (PT-AC), que esteve em contato permanente com Palocci, tentar convencer a oposição a não votar hoje a convocação. Os governistas ameaçaram, inclusive, votar contra caso o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), insista na votação. Mas, em longa conversa com Arthur Virgílio, o petista propôs dar a Efraim a incumbência de convidar o ministro quando a CPI julgar necessário o seu depoimento para falar das denúncias de corrupção durante sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto.

Apesar da boa vontade de Virgílio, a situação interna no PSDB também não é tranquila. O presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), também da linha do entendimento, está no exterior. Virgílio terá de convencer os senadores Antero Paes de Barros (PSDB-MT) e Álvaro Dias (PSDB-PR) - mais radicais - a aceitarem uma negociação com Palocci. No PFL, o ministro conta com o apoio do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), mas tem resistência entre os senadores Jorge Bornhausen, José Jorge (PE) e do próprio Efraim Moraes. É possível, por outro lado, um acordo com o líder do partido, senador José Agripino (RN), apesar de ter defendido ontem a votação do requerimento. "Depois vamos ajustar a data da convocação", disse.

Os oposicionistas reconhecem, portanto, que terão de afinar o discurso. "Quem está salvando o ministro hoje somos nós da oposição", disse o senador Antonio Carlos Magalhães, tentando irritar o presidente Lula. O pefelista acha que Lula quer derrubar o ministro e abrir os cofres públicos para as eleições de 2006.

A CPI dos Bingos vai decidir hoje se o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, será convocado para depor ainda este ano. A iniciativa contraria as expectativas do senador petista Tião Viana (AC) de dar a Palocci a prerrogativa de comparecer espontaneamente à comissão, sem se submeter a uma determinação da CPI.

Tião avisou que vai insistir nos seus argumentos até os últimos minutos. "Como o ministro colocou-se à disposição mediante um simples telefonema, ficou provado que há uma relação de cordialidade entre ele e os senadores da CPI. Seria um modo educado e cooperativo de agir." Tião e o líder da minoria, José Jorge (PFL-PE), foram encarregados pelo presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), de acertar com Palocci a data de seu comparecimento.

A exigência de Efraim é que isso ocorra antes de 10 de dezembro. "Não teria sentido adiar um depoimento importante para o próximo ano." Ele antecipou que, antes do ministro, a CPI ouvirá seu secretário particular, Adermison Ariosvaldo da Silva. Ele recebeu 1.434 ligações de Vladimir Poleto - ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão. Já indiciado pelo crime de formação de quadrilha, em Ribeirão Preto, Poleto terminou sendo alvo de um pedido de prisão provisória quando depôs à CPI.

O relator Garibaldi Alves (PMDB-RN) chegou a concordar com a tese do petista, de livrar o ministro da convocação, mas ao final endossou a posição do presidente da comissão, de que trocar a convocação por um convite a Palocci "atingiria a autoridade da CPI". "Há um acordo de deixar o ministro escolher a data e não o de descaracterizar os procedimentos da CPI."