Título: Oposição promete encurralar ministro
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Nacional, p. A5

Os partidos de oposição pretendem emparedar hoje o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tanto na Comissão de Finanças e Tributação quanto na comissão especial do Fundo Nacional do Ensino Básico (Fundeb), ambas as audiências marcadas para a Câmara. "Palocci vai ter de responder sobre corrupção no governo Lula, dinheiro de Cuba, tráfico de influência no seu ministério, empréstimos para o PT, Delúbio Soares", disse o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ). Quanto às suspeitas de corrupção na prefeitura de Ribeirão Preto, durante a gestão de Palocci, há um acordo na oposição para que o tema fique para a CPI dos Bingos. "Há acusações de que Delúbio (ex-tesoureiro do PT) intermediou operação de pagamento das autarquias para vários bancos. Vamos cair em cima disso", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). De acordo com o requerimento de convocação de Palocci, apresentado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por interferência de Delúbio o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pagou R$ 1,46 bilhão aos bancos pela prestação de serviços à autarquia. "O nome de Delúbio, novamente, volta à cena", disse Goldman. Antes, os bancos nunca haviam se preocupado com a cobrança.

A certeza de que o ambiente será hostil para Palocci levou os líderes dos partidos governistas a decidir comparecer em peso à Comissão de Finanças e à comissão especial do Fundeb para proteger o ministro. "Vamos todos para a comissão. Espero que a oposição trate o ministro com civilidade. Se ultrapassar o limite do que é razoável, vamos reagir", disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). "Se a oposição quiser usar seu espaço para desgastar o Palocci, o governo, o presidente Lula, se quiser ser oportunista, terá troco", avisou Chinaglia.

"Nós não vamos dar refresco. Vamos perguntar tudo o que couber dentro do governo Lula, tudo o que for suspeito de corrupção, lobbies no Ministério da Fazenda, e até sobre a pré-campanha de 2002", respondeu Rodrigo Maia. "O que não vou fazer é perguntas sobre o superávit primário, não vou dar essa chance ao ministro." Para Rodrigo, o ministro sabe tudo o que acontece no governo porque todos os órgãos têm ligação com a Fazenda.

Na comissão especial do Fundeb Palocci sofrerá ataque pesado de um ex-aliado. O deputado Ivan Valente (SP), que trocou o PT pelo PSOL, disse que vai sugerir a Palocci que se demita ali mesmo. "Vou dizer ao ministro que o hipermensalão que ele paga aos bancos, em forma de juros, deixa no chinelo qualquer corrupção que ele tenha cometido em Ribeirão. Por isso, vou sugerir que largue o ministério imediatamente."

Preocupado com possíveis agressões verbais ao ministro, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), pediu calma a todos.