Título: Stédile diz que ruralistas desvirtuaram a comissão
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Nacional, p. A13

O líder nacional do MST João Pedro Stédile afirmou ontem que a CPI da Terra, que pode terminar com um relatório desfavorável ao movimento, foi desvirtuada no Congresso e está sendo usada pela bancada ruralista para impedir o avanço da reforma agrária. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) ameaça produzir um segundo relatório, alternativo ao do relator da CPI, deputado João Alfredo (PT-CE), denunciando irregularidades em convênios assinados entre entidades que representam o MST e o governo federal. "As entidades que foram investigadas têm seus porta-vozes", limitou-se a dizer Stédile sobre os convênios, para em seguida contestar a condução dos trabalhos na CPI da Terra. Segundo o líder do MST, os integrantes do movimento consideram que a CPI foi conduzida para fugir completamente dos objetivos que levaram à sua criação. "Era analisar a origem dos conflitos sociais, que acontecem no meio rural e no meio urbano", disse Stédile. "No meio urbano, cujos conflitos são mais contundentes e graves, não fizeram absolutamente nada."

Stédile atribuiu a um grupo de "sete ou oito representantes da bancada ruralista que não querem que a reforma agrária avance" a manobra de transformar a CPI "apenas num palco de perseguição política ao MST".

Ele disse ainda que, numa análise preliminar, gostou do relatório de João Alfredo. "Pareceu-me um relatório prudente porque recoloca as questões no seu devido lugar. O que nós temos de analisar é por que há tanto latifúndio no Brasil, por que tem tanto pobre no meio rural e qual é a solução para isso."

Stédile participou ontem, no Rio, do seminário Resgatando a Dignidade: Ética, Estado e Sociedade, onde voltou a atacar a política econômica do governo. Ele afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não entendeu que seu apoio à causa da reforma agrária não pode conviver com a política econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Para Stédile, mais do que uma crise ética, o País atravessa uma grave crise econômica. "Dou desconto ao Palocci, que é médico sanitarista, mas qualquer estudante de economia sabe que o Brasil está crescendo menos do que o resto do mundo. Onde está o sucesso dessa política?", perguntou à platéia.

O líder do MST afirmou que Lula será cobrado pela História por ter mantido a política econômica do governo FHC e ter sido conivente com o que chamou de seqüestro do Estado pelo mercado financeiro. Para Stédile, é inútil Lula tentar convencer o País de que determinou a condução política econômica. "Essa política não é dele nem é um sucesso", afirmou.