Título: Relator da CPI da Terra pede indiciamento de líder da UDR
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Nacional, p. A13

O relatório da CPI da Terra, que deve ser debatido hoje em Brasília, inclui uma recomendação ao Ministério Público Federal para que indicie criminalmente o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia. Segundo o relator, deputado João Alfredo (PSOL-CE), ele deve ser indiciado pelo porte ilegal de armas, contrabando e organização de milícias privadas na região do Pontal do Paranapanema, interior de São Paulo. A acusação é baseada num depoimento feito por um fazendeiro da região à Polícia Federal, em 2003, no qual afirmou que Nabhan organizou o grupo de 15 seguranças que apareceu em reportagem do Jornal Nacional em julho daquele ano. Eles estavam encapuzados e treinavam tiro com armas de uso restrito. Segundo o fazendeiro, Nabhan organizou o grupo e forneceu as armas.

INDIGNAÇÃO

Ontem, ao tomar conhecimento da recomendação no relatório, o presidente da UDR reagiu com indignação. Disse que o relator não tem isenção, porque continua agindo como advogado do MST: "Esse deputado envergonha o Congresso."

Para Nabhan, a recomendação feita ao Ministério Público é uma retaliação: "Como o MST tem quatro líderes na cadeia, ele quis retaliar. Ele defende uma organização criminosa, que, apesar de invadir, incendiar e furtar, foi poupada no relatório da CPI."

Nabhan lembrou ainda que seu nome não foi sequer citado nas duas mil páginas do inquérito denominado Paz no Campo, realizado pela Polícia Federal. Também voltou a enfatizar o direito que os proprietários têm de defender suas terras, mesmo que seja com armas: "Jamais irei condenar qualquer associado da UDR que se arme para defender seu patrimônio, mas não incitarei ninguém a formar milícias, porque não sou inconseqüente."

Os advogados da UDR, segundo o presidente da entidade, vão encaminhar hoje à CPI um texto de repúdio ao relatório, insistindo para que seja lido antes de sua votação.

VIOLÊNCIA

Além de pedir o indiciamento de Nabhan, o relator da CPI atacou a entidade que ele preside, acusando-a de estimular a violência. "O crescimento da UDR coincidiu com o aumento da violência no campo", diz o texto.

No total, o relator fez 150 sugestões e recomendações. Elas tratam de trabalho escravo, reforma urbana, reforma agrária e violência na zona rural, entre outros itens. São direcionadas a governos estaduais, instituições federais, promotores. Um grande números delas é redundante - repetindo recomendações já existentes em programas de governo ou operações já em andamento na zona rural.

Segundo o relator, em nenhum momento o texto quis contemporizar. Ao mesmo tempo que ataca a UDR, ele defende as ações dos sem-terra, que seriam as principais vítimas da violência: "Os movimentos sociais são acusados da prática de violências, mas, pelo que vimos, quem denuncia e sofre essas violências são os membros desses movimentos."