Título: Sharon deixa Likud e cria partido
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Internacional, p. A15

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, de 77 anos, fez ontem mais uma de suas ousadas jogadas na política israelense ao deixar o partido que ajudou a fundar, o direitista Likud, para criar um outro, o Partido da Responsabilidade Nacional. A nova agremiação já nasce com 14 cadeiras no atual Parlamento - todas de likudistas que seguiram Sharon, incluindo cinco ministros. Com a debandada, o Likud fica com 26 das 120 cadeiras e continua com a maior bancada (ver gráfico ao lado). Horas depois, Sharon pediu ao presidente do país, Moshe Katsav, que dissolva o Parlamento para convocação antecipada das eleições, até então previstas para novembro de 2006. No entanto, os próprios parlamentares aprovaram ontem a dissolução da legislatura por 84 a 0 (com 10 abstenções). Ainda são necessárias outras três votações no plenário para confirmar a decisão. O presidente do Parlamento, Reuven Rivlin, garantiu que tentará encerrar esse processo até terça-feira. A partir daí serão contados 90 dias para a realização das eleições, que, portanto, devem ocorrer em março.

Pelo sistema israelense, num prazo de 21 dias o presidente pode pedir a um dos líderes partidários que forme outro governo. Essa hipótese parece descartada, porém, porque nenhum grupo teria condição de formar uma coalizão com o apoio da maioria parlamentar.

Sharon ficou enfraquecido no Likud depois de decidir retirar as colônias judaicas e o Exército israelense da Faixa de Gaza, entregando, em setembro, o território ao controle dos palestinos. A saída dos trabalhistas do governo, no domingo, deixou-o sem outra saída, a não ser antecipar as eleições.

Em um discurso à noite para explicar sua decisão, Sharon disse ter decidido formar outro partido porque permanecer no Likud seria "perda de tempo com política em vez de trabalhar para o bem da nação". Afirmou ainda que o Partido da Responsabilidade Nacional, que definiu como "liberal", estabelecerá a base para um acordo pacífico (com os palestinos), no qual serão fixadas as fronteiras definitivas de Israel. Ele não deu detalhes de como pretende alcançar a paz e descartou a possibilidade de uma retirada unilateral israelense de terras na Cisjordânia ocupada, a exemplo de sua iniciativa na Faixa de Gaza.

"Não há um novo plano de desengajamento (de retirada). O que há é o mapa da estrada", afirmou Sharon, referindo-se ao último plano de paz para a região, que nenhuma das partes tem cumprido. Israel continua expandido a colonização judaica na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental enquanto a Autoridade Palestina não tem impedido os grupos extremistas de atacarem alvos israelenses - os dois compromissos básicos do mapa da estrada.

Pesquisas publicadas no fim de semana - quando já se previa a saída de Sharon do Likud - mostraram que ele continua sendo o político mais popular de Israel e poderá conquistar apoio suficiente na eleição para conseguir um terceiro mandato como primeiro-ministro.

Seus principais rivais serão o novo dirigente do Partido Trabalhista, Amir Peretz, e o futuro líder do Likud. Entre os likudistas que disputarão o cargo está o ministro da Defesa, Shaul Mofaz, o ex-primeiro-ministro Binyamin Bibi Netanyahu e o chanceler Silvan Shalom. Líderes palestinos viram a reviravolta israelense com otimismo, segundo relatos de correspondentes estrangeiros. "Acredito que esta é uma erupção de um vulcão político israelense. Espero que quando a poeira assentar tenhamos um parceiro em Israel para seguir em direção a um acordo final", disse o negociador da Autoridade Palestina Saeb Erekat.