Título: No Brasiol, doença não está controlada, mas tende à estabilidade
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Vida&, p. A19

CONTESTAÇÃO: O Brasil ainda terá de percorrer um longo caminho antes de poder afirmar que a epidemia de aids está controlada, admite o coordenador do Programa Nacional de DST/Aids, Pedro Chequer. Há duas semanas, um documento do Ministério da Saúde dizia exatamente isso. "Há uma tendência de estabilidade, mas é só." O relatório da Unaids observa o aumento da prevalência de aids entre as mulheres, em especial as de classes econômicas menos favorecidas. E constata que, em alguns locais do Rio Grande do Sul, a taxa de infecção entre gestantes pode chegar a 6%. Chequer contesta este número e alega que ele é fruto de um estudo centrado só em algumas cidades. Diz, ainda, que a prevalência de casos entre gestantes está estável, em 0,5%.

Hoje, governo brasileiro, o Unicef e seis países anunciam medidas para conter a transmissão do HIV. O Brasil deverá se comprometer a reduzir para zero a transmissão vertical, de mãe para filho, tanto para sífilis quanto para HIV.

O relatório também faz menção às mudanças de hábitos do brasileiro. Hoje, jovens começam a vida sexual ativa mais cedo e têm mais parceiros. O Unaids destaca que no País houve um aumento do número de jovens que usam preservativos. Mas observa também que só 62% deles sabem como a doença é transmitida. No último ano, o País viveu duas crises no abastecimento de preservativos, o que, para alguns especialistas, poderia provocar um desestímulo para seu uso justamente entre os jovens. Chequer afasta essa possibilidade. Diz que o desabastecimento foi pontual e campanhas de prevenção com jovens são feitas de forma constante.

Ele acha indispensável ampliar os esforços mundiais na prevenção da doença, como recomenda a Unaids. "São dois pontos cruciais: acesso universal ao tratamento e prevenção." Chequer não poupou críticas à política americana, que prega a abstinência como a principal forma para prevenir a aids: "É muito mais do que ineficaz. É um desserviço no controle da doença, descolado de qualquer critério científico." Ele exortou países a seguir o exemplo do Brasil e se recusarem a receber recursos de órgãos que exigem o vínculo do dinheiro de prevenção a políticas específicas. Neste ano, o País recusou um financiamento da Usaid porque a entidade exigia, em troca, que organizações beneficiadas não apoiassem a legalização da profissão de profissional do sexo.