Título: China nega-se a abrir mercado
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

A China, cujo mercado é o que mais cresce para os produtos agrícolas brasileiros, não quer se abrir para a importação de bens agrícolas como os demais países da Organização Mundial do Comércio (OMC). Pequim quer manter uma proteção extra para cerca de 20% dos produtos agrícolas. O Brasil não aceita a proposta e não consegue fechar uma posição conjunta com os chineses sobre o tema nas negociações da Rodada Doha. Brasil e China fazem parte do G-20, bloco criado em 2003 para pressionar os países ricos a abrir o mercado agrícola.

Ontem, os chineses insistiram que precisam manter certas proteções extras. O argumento é que, como acabam de entrar para a OMC, não podem ter uma abertura maior.

O processo de ingresso de Pequim na entidade levou 18 anos para ser concluído e foi fechado em 2001. Para ser aceita, a China teve de abrir seu mercado. Mas, como uma nova rodada em negociação, Pequim teria de promover mais uma queda de tarifas.

Para a China, se uma nova liberalização ocorrer, há o risco de um grande e êxodo rural. Hoje, 800 milhões de chineses vivem no campo e contam com uma renda de só um terço dos trabalhadores das cidades. O que Pequim teme é que, com uma nova liberalização, as cidades recebam mais migrantes e o frágil equilíbrio social do país seja afetado.

O Brasil aceita que prazos mais extensos sejam dados aos chineses e aos demais países que acabam de ser admitidos na OMC para que cumpram as determinações de liberalização que terão de ser estabelecidas na atual rodada. Mas o Itamaraty não aceita que a rodada não signifique novas aberturas do mercado chinês.

Ontem, uma contra-proposta foi apresentada pelo G-20 aos chineses. Mas Pequim não aceitou. Para os outros países, o Brasil quer que a proporção de produtos considerados sensíveis sejam mantidos em só 1%.

Ao montar o G-20 com Índia e outros importadores agrícolas, o Brasil abriu mão de exigir deles uma maior abertura do mercado agrícola. A estratégia era em troca ganhar o apoio para formar o grupo e pressionar as economias ricas por reformas.