Título: Queda forte do juro só em dezembro
Autor: João Caminoto, Rita Tavares e Patrícia Fortunato
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

Os analistas de bancos estrangeiros já começam a trabalhar com a possibilidade de o Banco Central (BC) acelerar o corte da taxa Selic a partir de dezembro. Para a reunião que começa hoje e termina amanhã, no entanto, a expectativa deles também é de manutenção do conservadorismo com redução de apenas 0,5 ponto porcentual nos juros, hoje em 19% ao ano. Para o economista Luiz Cezário, do Banco HSBC, os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) deverão esperar até o fim do mês para analisar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), no terceiro trimestre, e ter mais confiança na aceleração do corte da Selic. Além disso, vão acompanhar o comportamento da atividade econômica neste último trimestre e a dissipação das fortes pressões inflacionárias registradas no IPCA de outubro. Apesar de apostar num corte de 0,5 ponto porcentual, Cesário afirma que não se pode descartar a possibilidade de uma redução de 0,75 ponto já na reunião desta semana. Isso porque é evidente a queda da atividade econômica. Os analistas do Banco Credit Suisse First Boston também apostam num corte de 0,5 ponto na Selic. Segundo eles, esse ciclo de relaxamento monetário, com reduções de 0,75 ponto, poderá ocorrer em dezembro ou janeiro. Para os ex-presidentes do Banco Central Affonso Celso Pastore e Gustavo Loyola, já há espaço para que o Copom decida por uma redução maior nesta semana. Segundo eles, a desaceleração mais acentuada da atividade econômica e inflação sob controle permitem uma decisão menos conservadora. 'A maioria dos BCs reagiria com a aceleração da queda da taxa de juros', disse Pastore. Ambos ponderaram que com a queda da atividade econômica e apreciação do real, a tendência da inflação é de baixa. 'Se o juro já estivesse baixo, seria preciso algum cuidado', afirmou Pastore, para, em seguida, afirmar que, como os juros estão altos, há condições para que as taxas caíam mais depressa. Apesar dessa avaliação, Loyola não acredita que o Copom faça um corte superior a 0,5 ponto na reunião desta semana. Ele criticou o conservadorismo do BC por ter elevado os juros mais do que era necessário, sobretudo os dois últimos movimentos. Já Pastore discordou, dizendo que o BC não tem sido agressivo nem na alta nem na baixa. 'Tem sido gradual nas duas direções.' O economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados, também defende que há espaço para um corte de 0,75 ponto nesta reunião, apesar da pequena alta do IPCA do mês passado, mas aposta em 0,5 ponto. Mendonça de Barros mostrou-se otimista quanto ao próximo ano, ainda que a questão da volatilidade cambial seja preocupante. Em relação ao embate entre os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil), ele se põe ao lado do ministro.