Título: 55 feridos em rebelião na Febem
Autor: Camilla Rigi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Metrópole, p. C1

Uma rebelião de três horas deixou ontem 55 feridos, 2 em estado grave, na Unidade Tatuapé da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), na zona leste. Foi a 34ª rebelião deste ano na Febem e a 18ª na unidade. Dos feridos, 31 são funcionários e 24, adolescentes internos. Segundo a Fundação, 61 internos fugiram - 49 foram recapturados pela Polícia Militar. Na manhã de ontem, os internos fugiram pelo portão da frente, enquanto outros queimavam colchões e cadeiras dentro do complexo. Segundo a Fundação, a confusão começou por volta de 11h30 em três unidades que ficam bem separadas, a 19, a 20 e a 39 - esta última abriga infratores reincidentes e que cometeram crimes graves - e teve a participação de 309 adolescentes, de um total de 1.350 internos no local.

Tropa de Choque, Cavalaria e policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) foram chamados para conter os infratores, que fizeram pelo menos dois funcionários reféns. "Eu tentei me trancar em uma sala, mas os garotos vieram correndo atrás e diziam que estava faltando reféns", disse o coordenador de equipe Guilherme José da Silva. Ele ficou 45 minutos em poder dos internos até conseguir correr em direção aos policiais do Choque.

De acordo com a Febem, sete pessoas permaneciam internadas em hospitais da zona leste, das quais quatro são funcionárias. Uma psicóloga da Febem foi levada para a Santa Casa em estado grave por ter sido pisoteada durante o motim. Ela foi operada e permanece em observação. Um interno caiu do telhado, teve traumatismo craniano e está internado.

O motivo da rebelião ainda é desconhecido, mas a Fundação deverá abrir sindicância para apurar se os internos foram incitados pela presidente da Associação de Mães da Febem (Amar), Conceição Paganele. A Febem informou estranhar o fato de que todas as vezes que Conceição visita uma unidade, dias depois ocorre um motim.

No fim de semana, Conceição visitou os internos com outras entidades de direitos humanos para averiguar denúncias de espancamento no Tatuapé. "Não organizei nada. Mas eles me disseram que não iriam suportar muito tempo essa situação", afirmou Conceição. Ontem, a maior revolta dela era que nenhuma mãe havia recebido informações sobre os filhos. "Isso é um desrespeito."

Na fuga, alguns detentos se refugiaram em uma favela ao lado da unidade. Outros tentaram fugir em carros roubados. O proprietário de uma empresa de material de construção, que se identificou como Igor, contou que dois adolescentes caíram no telhado da empresa e roubaram o carro dele para fugir. "Felizmente, ninguém ficou machucado." O carro de Igor, um Siena, foi achado pouco depois, pois os foragidos bateram em um ônibus.