Título: Desempenho de Palocci alivia mercado
Autor: Patrícia Campos Mello e Mario Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

O mercado teve um dia de intensa volatilidade ontem, acompanhando o depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Investidores começaram o dia apostando na saída iminente de Palocci e o mercado viveu momentos de stress. À tarde, o humor melhorou: analistas passaram a confiar na permanência do ministro no cargo, pelo menos por enquanto. A Bovespa chegou a cair 2,05%, reverteu a queda no meio da tarde e encerrou o dia em alta de 1,22%. O risco país bateu nos 350 pontos, para fechar em 346 pontos, em queda de 0,29%. Só a moeda americana contrariou a tendência positiva e fechou em R$ 2,24, em alta de 1,08% - mesmo assim, abaixo da máxima de R$ 2,26 registrada durante o dia.

Segundo analistas, o mercado abriu estressado por causa de vários boatos sobre a queda de Palocci. Havia rumores de que o ministro anunciaria em breve sua demissão e seu cargo seria assumido pelo ministro Ciro Gomes ou pelo senador Aloizio Mercadante. Houve até quem incluísse na bolsa de apostas o nome da economista Maria da Conceição Tavares, que assusta o mercado. Mas o depoimento de Palocci tranqüilizou os analistas e deu a impressão de que o ministro da Fazenda está mais forte do que se acreditava.

"No depoimento, Palocci está mostrando uma boa sintonia com Lula", comentou um operador. Ele se referia às seguintes afirmações do ministro: "Estou fortemente vinculado ao projeto do presidente Lula. Acredito nesse projeto." À tarde, Lula afirmou que Palocci "está mais firme do que nunca".

Para Rachel Fleury, economista da Tendências Consultoria, ainda há uma boa chance de Palocci ficar na Fazenda e, mesmo que ele saia, a política econômica não deve sofrer mudanças radicais. "Não faz sentido o presidente Lula mudar tudo agora e comprometer a única jóia da coroa, a estabilidade."

A divulgação da ata do Federal Reserve, o banco central americano, foi outro fator positivo para a reviravolta do mercado. A ata reflete a preocupação de alguns integrantes do Fed com os riscos de um aperto monetário exagerado. "A ata indica uma mudança, uma possível interrupção nas altas dos juros", diz João Marcus Marinho Nunes, economista-chefe da corretora Ágora Senior.

A ata foi muito bem recebida, tanto no mercado doméstico quanto em Wall Street. Os juros dos títulos do Tesouro americano caíram e os títulos da dívida brasileira também reagiram positivamente. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,47% e o Nasdaq subiu 0,53%.

Analistas esperam mais volatilidade nos próximos dias. "Teremos o mesmo tipo de cautela que tivemos hoje, por causa da instabilidade política, e pode haver realização de lucros, porque estamos chegando ao fim do ano", diz Rachel.