Título: Indústria espera 2006 sem otimismo
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

As expectativas da indústria para 2006 estão piores que as de outubro do ano passado em relação a 2005. O otimismo diminuiu nos seis itens pesquisados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialmente para a situação dos negócios, do emprego e dos investimentos. Em outubro do ano passado, 67% das indústrias projetavam melhora nos negócios em 2005. Agora, 44% espera avanços em 2006 e a parcela que espera piora saltou de 4% para 13%.

Para o economista da FGV Aloísio Campelo Júnior, a explicação é que no último trimestre de 2004 as indústrias vinham embaladas por um forte crescimento. Este ano, marcado por uma atividade industrial mais fraca, as indústrias estão mais céticas e esperam um crescimento moderado. Os principais motivos são os juros altos, apesar das recentes reduções, e o câmbio desfavorável.

Os dados mostram que encolheu de 29% para 24% a proporção de empresas que esperam crescimento real (descontada a inflação) do faturamento acima de 10%. Em contrapartida, passou de 71% para 76% a fatia das que projetam aumento real abaixo de 10%.

Para o economista da FGV Samuel Pessôa, há uma acomodação de expectativas, "mas também não está havendo regressão". A pesquisa ouviu 1.015 empresas com faturamento anual de R$ 475 bilhões.

Depois de dois anos em recuperação, deverá haver redução no ritmo de crescimento do emprego industrial. A proporção de empresas prevendo contratar mais encolheu de 47% (em outubro de 2005) para 30% este ano, enquanto saltou de 6% para 16% a fatia das empresas que projetam demissão. Os setores de mobiliário, mecânica, têxtil, vestuário e calçados são os mais pessimistas.

Para o coordenador de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, "houve uma frustração ao longo do ano com os negócios".

Segundo ele, as indústrias reduziram o uso da capacidade instalada, o que abre espaço para crescimento sem investimento. Isso foi detectado na pesquisa da FGV: a parcela de empresas que prevêem investir mais caiu de 52% em 2005 para 38% em 2006.

No segmento de bens de capital, o recuo foi ainda maior no grupo que pretendia investir mais: de 71% para 46%. No total da indústria, avançou de 8% para 22% a parcela de empresas que projeta redução dos investimentos.

Nas exportações, as estimativas foram as menos favoráveis da séria da pesquisa, iniciada em 2002. No fim do ano passado, 63% previam crescimento em 2005, ante 53% este ano.

Ainda assim, segundo Pessôa, o resultado é positivo e não permite dizer que "o câmbio está tão errado". Para ele, boa parte da valorização do real decorre dos bons fundamentos da economia, com destaque para o setor externo e o provável aumento da produtividade.