Título: Indústria automobilística amplia o uso de materiais reciclados
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Economia & Negócios, p. B14

Os carros que serão vendidos no País daqui a três ou quatro anos poderão ser desmontados num prazo inferior a uma hora, e as peças serão encaminhadas para reciclagem. A indústria automobilística desenvolve sistemas para facilitar o desmanche e agilizar o processo de reaproveitamento das peças ao fim da vida útil do automóvel. Modelos brasileiros já têm, em média, 85% de material reciclável, mas o País não dispõe de centros especializados no desmonte e seleção das peças que serão reaproveitadas. Na Europa, empresas de diferentes segmentos criaram redes para recolher os carros velhos, separar as peças por categoria de material e providenciar a reciclagem ou reaproveitamento.

Ao adquirir um automóvel, o consumidor recebe, além do manual do proprietário, um manual de desmontagem, que informa técnicas a serem seguidas para melhor reaproveitamento de peças e materiais. No Brasil, o processo está atrasado, mas as montadoras já desenvolvem, para os futuros lançamentos, conceitos de "reciclabilidade".

Uma das formas de facilitar o desmanche é usar materiais compatíveis. "Trabalhamos num processo de comunização de materiais ao invés de usar vinte diferentes tipos de plásticos", exemplifica Lúcia Rama, coordenadora de Engenharia de Materiais da Ford. Todas as peças plásticas nos automóveis da Ford com peso acima de 100 gramas são identificadas para que, no processo de desmanche, sejam separadas de acordo com o componente químico usado na produção.

As empresas também buscam parcerias com os fornecedores de componentes e matérias-primas para a criação das redes que recolhem os carros. Futuramente, é possível que o Brasil adote normas como as existentes na Europa, onde o último proprietário do modelo que está saindo de circulação deve entregá-lo aos centros coletores.

O processo das redes já está estruturado no Brasil apenas no caso do material PET. A Ford adquire matéria-prima dessa fonte para a fabricação dos carpetes de metade dos modelos da sua linha atual.

Em testes realizados inicialmente na Alemanha, por falta de laboratórios específicos no Brasil, a Ford conseguiu desmanchar um EcoSport no prazo de 1 hora e 18 minutos, processo que inclui a remoção de fluidos - que toma a maior parte do tempo, 42 minutos -, dos pneus, vidros, catalisadores e demais componentes. "Continuamos trabalhando para agilizar esse tempo", diz Lúcia.

Na Europa, a Ford utiliza carcaças de computadores e telefones celulares nos painéis e grades do Ka, Fiesta, Focus e Mondeo. No Brasil, a empresa usa resíduos da indústria têxtil, como sobras de fabricação de jeans, para isoladores acústicos ou térmicos.

A General Motors do Brasil estuda o uso de plástico já reciclado para peças dos seus automóveis. Hoje, a empresa adquire o plástico normal para injetar peças como painéis. "Aguardamos a validação do plástico já reciclado para utilizá-lo no futuro", diz Rita Heloisa Binda, gerente de Engenharia de Materiais da empresa.

Este mês, a Ford começa a produzir o manual do proprietário dos modelos EcoSport e Fiesta em papel reciclado, mais uma iniciativa inédita do grupo. Oswaldo Jardim, responsável pelo projeto, calcula que serão economizadas 16 toneladas de papel por ano. Até o começo de 2006 a empresa espera estender a estratégia para todos os modelos.

Programas de reciclagem estão mais adiantados no processo produtivo das fábricas. Dos resíduos gerados pela GM em São Caetano do Sul, 80% são reciclados, informa Vivian Cury, da área de Engenharia Ambiental.

A Fiat reduziu em 47,5% a geração de resíduos por veículo na fábrica de Betim (MG). Segundo a empresa, 90% dos resíduos vão para reciclagem, são reaproveitados ou vendidos para outras aplicações ambientalmente seguras.

A Volkswagen desenvolveu um projeto de reciclagem de borra de tinta. Só a fábrica de São Bernardo do Campo recicla cerca de 600 toneladas por ano da tinta que sobra da pintura dos carros.