Título: 'Ele só contou depois que a bomba explodiu'
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2005, Vida&, p. A28

Mãe de um dos garotos suspeitos de ter sofrido abuso relata sua angústia

SÃO LUÍS - Poucos recursos, muito trabalho, vida difícil. Além dos problemas rotineiros, Natália enfrentava conflitos com o filho adolescente, de 17 anos. Ele já vinha se mostrando rebelde e agressivo havia cerca de um ano. O garoto matava aula sem a família saber para jogar bola com os amigos, não se interessava pelos estudos, não obedecia a ninguém. No entanto, tudo perdeu a importância para a família diante da notícia de que seu filho havia sido uma das vítimas do padre.

Natália mora num bairro da periferia e seu maior desejo sempre foi mudar de endereço. Alzira, sua mãe, que mora com ela e ajudou a criar o neto, diz ter vergonha de aparecer na porta da casa. Sente-se culpada pelo que aconteceu com o neto, acha que falhou em algum ponto e tem a sensação de que todos sabem e estão falando a respeito.

Como a sra. descobriu o que ocorreu com seu filho?

Chegou uma intimação policial para ele ser ouvido na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Ele só contou depois que a bomba explodiu.

O que ele disse?

Disse que um colega dele o chamou para conhecer um outro amigo. Foram à praia, ao bar, beberam e depois foram a um motel. Ao chegar lá, meu filho disse ter perguntado o que iriam fazer ali. O padre, então, disse que gostava de ser ativo, passivo e de ver os meninos. Meu filho disse que o seu colega incentivou, que ele iria se dar bem, ter roupas bacanas, noitadas, vida boa.

Como seu filho reagiu?

Meu filho disse que não aceitou, chegou a brigar fisicamente com o padre e conseguiu escapar. Foi só isso que ele contou para a gente.

Como ele está?

Assustado. Ninguém comenta o assunto por aqui, a namorada dele não sabe de nada.

O que a sra. está achando de tudo isso?

Sinto revolta, inconformismo, raiva, muita raiva. Ele (o padre) merecia passar pelo que todo estuprador passa na penitenciária.

A condenação do padre aliviaria sua angústia?

Pode aliviar, mas não me conformo. E, por enquanto, ele não foi condenado. Fico revoltada só de pensar que ele pode ser solto de novo. Acho difícil que ele seja condenado.

Por que a sra. acha que ele não vai ser condenado?

A delegada (Ana Karla Silvestre) é muito competente, mas a Igreja pode tudo. Não arranjaram advogado para ele e dinheiro para pagar fiança? .