Título: Imigrantes tomam empregos de ingleses
Autor: David Smith
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2005, Internacional, p. A19

A imigração foi, inegavelmente, algo bom para a economia britânica, de acordo com o senso comum. Trouxe novo talento e dinamismo e ajudou a economia de outros modos. Essa, até agora, certamente era a minha visão. O Tesouro diz que a imigração, ao impulsionar o crescimento da força de trabalho, também eleva a taxa de crescimento de longo prazo, ou tendência da economia.

O Banco da Inglaterra, em uma avaliação do impacto da imigração, concluiu em seu mais recente relatório de inflação, em agosto, que a chegada de novos trabalhadores tinha o efeito benéfico de agir como uma válvula de segurança do mercado de trabalho, reduzindo as pressões de pagamento. Dizia que um dos recentes enigmas econômicos havia sido o comportamento surpreendentemente benigno dos salários, em função do baixo emprego. Uma razão, relatada por seus próprios agentes regionais, foi que os empregadores estavam utilizando cada vez mais trabalhadores imigrantes para aliviar a falta de mão-de-obra.

Certamente, há muita imigração. Números oficiais divulgados no começo deste mês mostraram que 582 mil pessoas, um recorde, vieram para a Grã-Bretanha em 2004, mais que as 513 mil de 2003. Houve também 359 mil partidas em 2004, um pouco menos do que as 361 mil de 2003. A migração líquida para a Grã-Bretanha foi, portanto, de 223 mil, a maior desde que o atual método de compilação começou, em 1991, mais que os 151 mil de 2003.

Mais britânicos saem do que voltam: um recorde de 208 mil partidas em 2004, comparado com apenas 88 mil chegadas. Em comparação, chegaram 342 mil não-britânicos a mais que os que saíram. A Grã-Bretanha se tornou um ímã para cidadãos de países do Leste Europeu recentemente admitidos na União Européia.

Agora, porém, há algumas evidências econômicas de que este processo talvez tenha ido um pouco longe demais. O outro enigma do mercado de trabalho são as estatísticas de desemprego. Todos os meses deste ano a conta aumentou. O aumento não é grande - no total, pouco mais de 60 mil -, mas é o primeiro aumento sustentado desse tipo em 12 anos e uma mancha nas estatísticas positivas do mercado de trabalho.

Ao mesmo tempo, no entanto, o emprego continuou a crescer - em 345 mil em relação ao ano anterior, segundo o Estudo sobre Força de Trabalho, e em 150 mil postos de trabalho, segundo números dos empregadores. Como se pode ter, simultaneamente, aumento de emprego e desemprego?

John Philpott, economista-chefe do Chartered Institute of Personnel and Developement, combinou dados oficiais com pesquisas próprias e sugere que pelo menos parte da resposta está na imigração. "O desemprego aumentou em 2004 não porque mais pessoas entraram na conta - na verdade, poucas o fizeram -, mas porque poucas pessoas estão saindo", disse ele. "A razão está clara em nossa pesquisa trimestral. Mostra que, quando se trata de recrutamento, os candidatos, muitos dos quais não estão imediatamente prontos para o trabalho, estão perdendo para outros, especialmente números cada vez maiores de imigrantes."

A alegação "eles estão pegando nossos empregos" sempre foi o argumento de quem se opõe à imigração. Mas agora parece ser verdade, pelo menos em parte. Os desempregados, especialmente os de longo prazo, podem ser menos atraentes para os empregadores do que imigrantes brilhantes com uma ética de trabalho embutida.

Qualquer um que questiona os efeitos benéficos da imigração corre o risco de ser acusado de estar à direita de Gengis Khan. Os conservadores achavam que estavam tocando uma nota popular com o slogan eleitoral este ano: "Não é racismo querer controlar a imigração."

Mas o cartaz com o slogan, usado em áreas com altas concentrações de imigrantes, foi considerado por muitos eleitores desagradável e exagerado. Os conservadores perderam e David Cameron, que ajudou a planejar a campanha, sem dúvida aprendeu a lição. Mas não é preciso ser da direita para entender.

Fiquei surpreso com uma reportagem no jornal The Guardian de 11 de outubro, de Polly Toynbee, que está um pouco à direita de Tony Blair e Gordon Brown. Os migrantes, disse ela, mantiveram baixos os salários dos trabalhadores mal-remunerados, reforçando a diferença entre ricos e pobres e impulsionando os lucros das empresas. "É isso que a globalização faz, amplia a diferença entre ricos e pobres", escreveu Polly Toynbee. "Trabalho barato fornece serviços mais baratos para os ricos manterem seu estilo de vida sofisticado, enquanto vinculam uma fatia cada vez maior da força de trabalho ao menor salário."

David Coleman, professor de demografia da Universidade de Oxford, é consultor honorário do Migration Watch. Em Os Efeitos Econômicos da Imigração para o Reino Unido, tese que escreveu em 2004 em conjunto com Bob Rowthorne, da Universidade de Cambridge, ele concluiu que os benefícios econômicos eram superados por efeitos negativos: "As conseqüências econômicas da imigração em larga escala são em grande parte triviais, negativas ou transitórias; os interesses das mais vulneráveis categorias da população doméstica podem ser prejudicados; qualquer pequeno benefício fiscal ou econômico de outro tipo não deve sustentar comparação com o substancial e permanente impacto demográfico da imigração."

Mesmo que se escolha não ir tão longe, a imigração realmente apresenta um dilema. Quando o desemprego está caindo, tem uma função útil e até vital. Quando a falta de emprego aumenta, a situação fica mais grave. É possível vislumbrar uma situação, claro, onde os empregados de escolha sejam de outros países, até quando o desemprego está alto na Grã-Bretanha.

Qual seria a resposta a isso? Em termos de política, a resposta tem de ser melhorar a estrutura dos desempregados e de quem está ameaçado de ser substituído por imigrantes.

No entanto, não deveria ser nada que pudéssemos fazer como país para impedir a entrada dos imigrantes, especialmente os de outras partes da União Européia. Algo para refletir, especialmente se a queda no crescimento estiver rondando por algum tempo.