Título: O casamento de mentirinha de Fernando Collor
Autor: Angélica Santa Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2005, Nacional, p. A14

União religiosa simulada do ex-presidente com Caroline Medeiros irrita fiéis e enfurece Rosane Collor

Chamado pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello para celebrar a sua união com a arquiteta Caroline Medeiros, o bispo Edvaldo Amaral foi logo avisando que, em casos como esses, todo cuidado é pouco. "Eu disse a ele que não faço coisas como aquela que o padre Antônio Maria aprontou no casamento do Ronaldo. Abençoar a união de gente descasada e recasada é anti-sacramental. Deus me livre!", conta ele. Arcebispo de Maceió de 1986 a 2002 e agora responsável pelas almas do arquipélago de Fernando de Noronha, d. Edivaldo concordou apenas em rezar uma missa para as famílias no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios - uma igrejinha no município alagoano de Coqueiro Seco, que acaba de ser restaurada pelo Instituto Arnon de Mello. A cerimônia aconteceu na sexta-feira, 28 . Mas os cuidados não foram suficientes. Por conta de suas semelhanças com um casamento de verdade, provocou polêmica entre católicos e despertou a fúria de Rosane Collor, que à luz da lei ainda é a esposa oficial do ex-presidente. A festa, de fato, teve ares de casório. Grávida de nove semanas - de gêmeas - Caroline entrou na igrejinha de grinalda, com um longo vestido branco. Diante de convidados perfilados, passou de braços dados com o pai, Jacinto Mendonça, e acompanhada por duas sobrinhas. Atravessou um tapete de folhas secas com aroma de canela e foi recebida por um Collor sorridente, de terno preto, de pé diante do primeiro banco da igreja - a uma pequena distância do altar. Depois o casal seguiu para a cobertura do ex-presidente em Maceió, cortou um bolo de três andares, posou para fotos e recebeu cumprimentos. Foi um casamento de mentirinha, porque Collor já trocou alianças uma vez na igreja - com Lilibeth Monteiro de Carvalho, com quem ficou durante seis anos - e ainda não assinou a papelada que oficializa o fim de sua união civil de 21 anos com Rosane Collor.

Na quinta-feira, a revista Caras publicou fotografias do casamento simulado, escolhidas e divulgadas a dedo pelo ex-presidente. No dia seguinte, o telefone da Cúria Metropolitana de Maceió recebeu ligações de pessoas reclamando de como pode o ex-presidente ter casado outra vez, se já é casado. Em uma das ligações, um homem que disse ser católico, mas separado, perguntou se estava liberado para casar pela segunda vez.

Os advogados de Rosane tiraram cópias das fotos para anexá-las ao processo de separação - como prova de que Collor tem feito provocações para deixá-la abalada a ponto de aceitar os R$ 15 mil mensais que ele oferece como pensão. Alterada - mas não a ponto de desistir de lutar pela metade dos bens do ex-marido -, Rosane comentou com amigas que a união foi uma tentativa de atingi-la. E preconizou que ela não há de durar.

Surpreso com as reações, d. Edvaldo Amaral explica que o cerimonial é uma coisa. A missa, outra. "Teologicamente falando, não havia nada ali que indicasse um casamento. Não houve bênção e até citei o Papa João Paulo II, quando ele lembra que descasados não têm direito ao sacramento. Mas não vi como eles entraram na Igreja, porque estava na sacristia. E agora, por causa dessa porcaria dessa revista, lá vem o povo dizer que casei o homem três vezes!", queixa-se. Avisado por assessores da reação dos fiéis, o arcebispo de Maceió, d. José Carlos Melo, mandou buscar o folheto da celebração. Leu atentamente e concluiu: "Formalmente, não foi um casamento. Mas, se agora ficam insistindo que foi, paciência. Ninguém segura a língua de ninguém."

O casório simulado é mais uma polêmica na família do ex-presidente, que governou o Brasil entre 1990 e 1992 e deixou o poder por conta de denúncias iniciadas pelo irmão, Pedro. A mais recente é a separação conturbada. Em abril, Collor mandou empacotar as roupas de Rosane e enviou para a mansão do casal em Maceió, onde ela estava. Semanas depois, apareceu em público com Caroline, uma arquiteta de 28 anos - e 28 anos mais nova do que ele. Rosane reagiu pedindo a divisão do bens do ex-marido e fazendo acusações de que ele teria confiscado suas jóias de família.

A confusão é acompanhada de perto pelo clã. Brigado com o ex-presidente - a quem acusou de comprar o dossiê Cayman, uma pilha de falsos documentos contra políticos tucanos -, Leopoldo Collor costuma telefonar para Rosane em Maceió para contar as aparições públicas do irmão ao lado de Caroline, em São Paulo. Há um mês, fez relatos que deixaram Rosane indignada. Contou que Collor levou Caroline para fazer compras no sex shop onde trabalha uma de suas filhas, Isabel. De lá, seguiu para a joalheria Tiffany's, onde trabalha outra filha de Leopoldo, Beatriz, e comprou um par de alianças.

Rosane não acreditou. Leopoldo pediu para as filhas ligarem para ela e darem mais detalhes. Além de dividir a família - os filhos, Arnon Afonso e Joaquim Pedro, se recusaram a ir à missa-casório -, a separação obrigou os empregados do ex-casal a escolherem um lado. Espalhados entre uma mansão em São Paulo, outra em Maceió - onde mora Rosane - e a nova cobertura de Collor, eles foram proibidos pelos patrões de trocar informações.

"ROSANE 2006"

A primeira audiência para oficializar a separação está marcada para o fim do mês. Enquanto espera, Rosane Collor se dedica a fazer ginástica, ir a cultos em uma igreja evangélica e decidir o seu futuro. Como mostram dez outdoors espalhados por Maceió - com os dizeres "Rosane Collor para 2006" -, ela quer se candidatar.

Na última segunda-feira, participou de reunião com representantes do PMR (Partido Municipalista Renovador) - partido que adotou no último dia de filiações. "Ela vai sair candidata. Pensa em ser deputada federal, mas quer consultar a família antes. Tem muitas chances, por causa da tradição da família dela na política", diz Reginaldo dos Santos, coordenador do PMR em Alagoas e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. Procurados pelo Estado, Collor e Rosane não retornaram as ligações.