Título: Suplicy pede explicação definitiva de Palocci
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2005, Nacional, p. A6
Se o ministro da Fazenda não conseguir dar uma resposta firme às denúnicas, o que significa apresentar documentos, o senador do PT defende sua saída do governo
BRASÍLIA - O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) considera graves as acusações contra o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e acha que ele deve preparar uma defesa muito consistente, que não seja baseada apenas com palavras, como tem feito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas também com documentos capazes de esvaziar as denúncias. A tarefa não é fácil. Trata-se de rebater acusações de superfaturamento de até 1.000% à época em que era prefeito de Ribeirão Preto e suspeitas de que tenha sido, na prática, o verdadeiro arrecadador de recursos irregulares para o PT na última campanha presidencial. Suplicy prega a inocência de Palocci, e promete continuar defendendo-o, mas diz que se os fatos frustrarem essa convicção pessoal, a substituição de Palocci não será um drama: o senador acha que, a exemplo do que ocorre no futebol, a economia brasileira é movida por pessoas talentosas, capazes de formar "uma seleção" e uma eventual substituição de Palocci ocorrer sem traumas nas finanças públicas. O ministro Palocci conseguirá se defender no plenário, no dia 22, ou é melhor ele comparecer logo à CPI dos Bingos?
Em vista dos novos fatos que foram levantados pela CPI dos Bingos e que estão a demandar esclarecimentos por parte do ministro, é natural que haja a vontade dos senadores em ouvi-los. Mas acertamos na CPI que, à medida que o ministro responder às perguntas relevantes, acredito que estará preenchida a necessidade de seu comparecimento às CPIs.
É verdade que o ministro deixará o cargo se tiver de comparecer à CPI?
Eu não acredito, não conversei com ele a respeito. O ministro Palocci sabe hoje que chegou uma documentação importante na CPI, levantada pelo Ministério Público e pela Câmara de Ribeirão Preto, que poderão ser objetos de argüição por parte dos senadores. É, portanto, importante que ele esteja bem preparado para esclarecer toda e qualquer pergunta, inclusive com documentos na mão.
Até que ponto o senhor vai manter a postura de defender o ministro?
Estarei defendendo o ministro Palocci enquanto tiver a convicção que ele agiu com probidade. Se me for comprovado um procedimento incorreto, aí é outra coisa. Eu tenho com o ministro uma relação muito boa, de confiança mútua. Se um dia eu cometer um erro grave e isso estiver exposto à opinião pública, minha expectativa é que o ministro diga: "Eduardo, você errou". E neste ponto (com relação a Palocci), tenho de ser crítico da situação e defender as conseqüências devidas.
O senhor chama de "conseqüências devidas" a saída do ministro do cargo?
Se houver um erro grave, não há dúvida.
O que o senhor achou dos depoimentos à CPI dos Bingos dos dois ex-assessores do minisitro, Rogério Buratti e Vladimir Poleto?
Eu fiquei preocupado com o que foi relatado por eles na CPI, pois ambos contaram procedimentos que eles sabiam não serem de probidade. Como até hoje nunca ouvi o ministro Palocci falar de procedimentos que não sejam os mais corretos, eu tendo a dar a ele o benefício da dúvida, até que eu possa obter os esclarecimentos e dar aos senadores e à opinião pública a oportunidade de saber o que se passou.
Se Palocci deixar o cargo, o senhor teme pela economia brasileira?
Felizmente, o Brasil tem extraordinários jogadores de futebol que podem fazer diversas seleções brasileiras serem campeãs do mundo. Assim como tem pessoas para conduzirem a economia do País. O próprio ministro Palocci sabe disso.