Título: Ex-crítico, Mercadante pede agora apoio total ao ministro
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2005, Nacional, p. A6

Conhecido adversário da política monetária do BC, senador diz que "defender o governo é defender o Palocci"

BRASÍLIA - Mesmo sendo um conhecido crítico da política monetária do Banco Central, e no passado tenha se colocado contra a elevação da meta do superávit primário, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), acha que não é hora de se travar um debate sobre essas questões. "Neste momento em que o ministro Antonio Palocci (da Fazenda) está sofrendo um duro ataque da oposição, esse debate torna-se inoportuno", afirmou. "Defender o governo agora é defender o Palocci", continuou Mercadante, que fez questão de deixar claro o seu "apoio incondicional ao ministro". O petista acha que "uma parte da oposição" está interessada na desestabilização do governo e, por essa razão, ataca o ministro da Fazenda. "Essa oposição sabe que a única forma de se viabilizar eleitoralmente é desestabilizar o governo", acusou. Ele disse que essa estratégia coloca em risco os ganhos obtidos na condução da política econômica e que são simbolizados na figura de Antonio Palocci. "O que estão fazendo com o Palocci é uma irresponsabilidade com o País", afirmou.

Mercadante reconhece que efetivamente existe um debate sobre a política fiscal, principalmente relacionado com a calibragem do superávit primário, mas que, neste momento, essa discussão deve ser feita apenas dentro do governo para não fragilizar a posição do ministro da Fazenda.

"O governo pode continuar discutindo essas questões, mas não precisa expor publicamente suas diferenças", observou, numa referência implícita às críticas feitas pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em entrevista ao Estado, ao plano de ajuste fiscal de longo prazo apresentado pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Dilma qualificou o plano de "rudimentar".

POPULISMO

Mercadante disse que as divergências sobre a dosagem do superávit não é um fenômeno novo no Brasil. "Essa discussão sempre esteve presente. Ela existiu na época dos ex-ministros Mario Henrique Simonsen e Delfim Netto (que foram, respectivamente, ministros do Planejamento e da Agricultura no governo Figueiredo) e dos ex-ministros Pedro Malan e José Serra (que foram, respectivamente, ministros da Fazenda e do Planejamento no governo Fernando Henrique Cardoso)."

A discussão sobre a "calibragem" do superávit primário não significa, segundo Mercadante, que exista uma corrente no governo que seja contrária ao ajuste fiscal. "A responsabilidade fiscal não está em questão", garantiu. "A convicção deste governo é a de que o populismo fiscal é incompatível com o crescimento sustentado."

Segundo o líder do governo, o governo não vai abdicar da responsabilidade fiscal porque é necessário reduzir a dívida pública. "A dívida é o único entrave ao crescimento."

Mercadante lamentou que a oposição não esteja dando o devido valor ao que chamou de conquistas do governo Lula na área econômica. A primeira delas é a baixa inflação deste ano, em torno de 5% - "a terceira menor no pós-guerra", disse. Outra é o forte ajuste das contas externas, que reverteu um déficit expressivo no balanço de pagamento em superávit.

Finalmente, o líder destaca a criação de empregos com carteira assinada nos últimos anos.