Título: Desgaste na crise acabou com a fama de 'ministro teflon'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2005, Nacional, p. A4

Ministro ganhou blindagem no passado em boa parte por sua habilidade política e pela condescendência da oposição

BRASÍLIA - Até pouco tempo atrás, corria nos gabinetes da Esplanada dos Ministérios uma brincadeira sobre a fama do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de sair quase ileso das denúncias: "Palocci Teflon: nada gruda nele." Mas os novos lances da crise, com denúncias envolvendo seus ex-assessores em Ribeirão Preto fizeram a piada perder a graça. Nos últimos dias, o cerco apertou, mostrando que o teflon se desgasta rapidamente. No Ministério da Fazenda e no Banco Central, o comentário de fontes ouvidas pelo Estado é que o enfraquecimento de Palocci aumenta a percepção de risco para a manutenção da política econômica. Um dos principais temores é de que a crise ganhe força em 2006, às vésperas das eleições, que por si só já trazem incertezas e contaminam o cenário econômico.

Além de gozar da confiança do presidente Lula, Palocci tinha proteção extra no passado - em parte devido à sua habilidade de negociador e à condescendência da oposição, que via nele o fiador da política econômica ortodoxa, em muito semelhante à do governo anterior. Os resultados que o País vem apresentando, especialmente quanto ao crescimento econômico, deixavam os oposicionistas com medo de desestabilizar o ministro e serem acusados de trazer instabilidade ao País.

Hoje, esse quadro está mudado. "Não há mais esse receio. Está claro que a política econômica vai continuar assim, independentemente do ministro. A oposição não quer mudança de rumo na economia e nisso está de acordo com o governo", afirmou o líder do PFL no Senado, José Agripino (PFL-RN).

Para Agripino, o principal sinal de enfraquecimento de Palocci é a falta de respostas firmes às denúncias, ao contrário do que marcou a sua defesa quando surgiram as acusações sobre irregularidades na coleta de lixo de Ribeirão Preto. Na ocasião, o petista respondeu à denúncia em entrevista coletiva e se comprometeu a dar explicações. "Agora, a gente vê com freqüência nos jornais que o ministro procurado não respondeu, demonstra irritação."

NOVO TOM

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, marcou o novo tom da oposição na sessão da CPI dos Bingos que flagrou em contradição o economista Vladimir Poleto. O ex-assessor de Palocci é acusado de ajudar no transporte de dólares que teriam vindo de Cuba para ajudar na campanha de Lula, em 2002.

Virgílio afirmou que gosta de Palocci como ministro, mas está bastante decepcionado com as sombras em torno de Ribeirão, cidade que o petista governou duas vezes. E cobrou explicações do ministro, inclusive na CPI. Para a vice-líder do governo no Senado, Ideli Salvatti (PT-SC), o recrudescimento do drama "palocciano" tem mais a ver com o "clima de tudo ou nada" que teria adotado a oposição. Segundo ela, não há uma indisposição específica contra Palocci, mas sim contra o governo.

Como ministro que provavelmente tem os melhores resultados a apresentar, Palocci foi alçado à condição de alvo, alega Ideli. Além disso, a confluência das denúncias de dólares vindos de Cuba com os depoimentos de Poletto e do advogado Rogério Buratti à CPI facilitaram a artilharia oposicionista. Para a oposição, porém, é a reincidência das denúncias e o surgimento de evidências mais fortes que estão minando a blindagem. "Começaram a aparecer fatos reais sobre Palocci. Isso é fatal", enfatiza o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).