Título: 'Gostaria que ele abrisse mais a mão', diz Furlan
Autor: Vera Rosa e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Nacional, p. A4

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, declarou-se ontem favorável à proposta da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de manter a meta de superávit primário no limite de 4,25% do PIB. Ao mesmo tempo, porém, elogiou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Não só acho que o ministro vai ficar no cargo, como gostaria muito que ele ficasse", afirmou. "Mas gostaria que abrisse um pouco mais a mão." O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, concordou com Furlan. Eles estiveram na Argélia em busca de novos mercados para produtos brasileiros e concederam entrevista no vôo de Argel para o Recife, onde desembarcaram ontem.

Em relação a Palocci, Furlan observou que "o pior do vendaval já passou". Ele acredita que o ministro agiu corretamente indo ao Congresso dar explicações: "Ele não fica esperando que os problemas o atropelem."

Para Furlan, a política econômica está no rumo certo e a discussão atual não é sobre a meta, mas sobre a economia obtida acima dela. "No governo, praticamente todos os ministros concordam e apóiam o cumprimento da meta de superávit de 4,25% do PIB, que é o nível ajustado como objetivo de governo", disse. "A discussão é sobre o que fazer com o excedente."

De janeiro a setembro, o superávit está próximo a 6% do PIB, bem acima da meta. Segundo Furlan, a discussão é sobre o uso dessa gordura: se deve ser usada para reduzir a dívida ou, como defende ele, para investimentos. "É uma discussão saudável, pois não conheço nenhum ministro que defenda torrar o superávit primário em despesas não produtivas."

O ministro destacou que Lula é um desenvolvimentista. "Se você quer ver o presidente vibrar, é falar de projetos de investimento, geração de emprego e expansão da economia", contou. "Mas ele respeita os limites da prudência, porque sabe que esse pilar tem que ser sólido."

Furlan reconheceu que, no debate, ele e outros colegas às vezes "pisam na bola". Citou a expressão "rudimentar", usada por Dilma para descrever o programa de ajuste fiscal de longo prazo defendido por Palocci. Para ele, não foi a mais correta. "A gente pisa na bola. Eu mesmo uso palavras inadequadas. O Lula pisou na bola várias vezes, porque não foi preparado para usar as palavras, assim como eu e o ministro Silas."

Furlan defendeu a aplicação do excesso de resultado primário em investimentos na indústria, na forma de cortes na tributação sobre a construção civil, e no setor de energia. Mas admitiu que a edição de uma nova MP do Bem dependerá do ambiente político no Congresso.

A repórter viajou a convite do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior