Título: Ministro evita reunião para não encontrar Dilma e Mantega
Autor: Vera Rosa e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Nacional, p. A4

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recusou-se a participar da reunião da Junta de Execução Orçamentária marcada na segunda-feira passada, destinada a avaliar as receitas e despesas da União no quinto bimestre do ano. Por entender que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, iria defender novas liberações de gastos, Palocci preferiu evitar um novo desgate e comunicou ao presidente Lula sua decisão de não comparecer. Palocci ficou muito irritado quando soube que Lula tinha convidado o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, para participar. Quis saber o motivo do convite, pois as despesas e receita orçamentárias não dizem respeito ao BNDES, que tem seu próprio orçamento de investimentos. A Junta faz as reuniões uma vez por mês e dela participam a Fazenda, a Casa Civil e o Planejamento. A presença de Mantega foi entendida por Palocci e Paulo Bernardo como reforço à posição de Dilma a favor de mais gastos.

Mantega é conhecido adversário da tese de Palocci de elevar o superávit primário deste ano para 5% do PIB. As relações entre os dois já estavam estremecidas, segundo fontes oficiais, porque o presidente do BNDES fez chegar a Lula a queixa de que não foi consultado pela área econômica sobre o programa de ajuste fiscal de longo prazo, que Bernardo estava coordenando. Mantega, que foi ministro do Planejamento até novembro de 2004, tem forte influência sobre o presidente.

A reunião da Junta iria avaliar a execução do orçamento até outubro, tendo em vista o envio, ao Congresso, do relatório de avaliação das receitas e despesas do quinto bimestre. A intenção de Lula e de Dilma era que o governo decidisse pela liberação de verbas bloqueadas, principalmente para infra-estrutura. O presidente já tinha anunciado a decisão de acelerar os gastos no fim deste ano, para voltar o superávit primário ao nível mais próximo possível dos 4,25% do PIB.

Depois de recusar participar da reunião, Palocci teve, segundo uma fonte governamental, demorado encontro com Lula. Mostrou que a elevação dos juros pelo Banco Central, para controlar a inflação, encareceu a dívida pública e, por isso, é necessário que o superávit seja maior. Os dois chegaram a um acordo que representa alternativa "não tão ortodoxa", como desejava Lula, nem "tão liberal" como não queria Palocci.

O acordo pressupõe que o superávit do setor público ficará em torno de 4,6% ou 4,7% - "talvez um pouco acima daquele obtido em 2004", disse a fonte. Um ministro garantiu ao Estado que o governo não trabalha mais com a previsão de 5%, que era defendida por Palocci.