Título: Palocci diz que assessores sofrem perseguição política
Autor: João DomingosLuciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Nacional, p. A6

A oposição tinha ameaçado encurralar ontem o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no depoimento à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Mas não conseguiu. O ministro enfrentou todas as perguntas a respeito de sua equipe de Ribeirão Preto - parte dela envolvida em grandes escândalos, como o advogado Rogério Buratti, suspeito de intermediar a renovação do contrato da Gtech com a Caixa Econômica Federal para exploração de loterias. E respondeu o que quis. Diante da insistência dos deputados sobre as razões de Palocci não processar Buratti, que na CPI dos Bingos o acusou de comandar uma caixinha de R$ 50 mil mensais para o PT nacional, ele disse que neste momento não vai à Justiça contra ninguém, opinando que ex-assessores seus são atualmente perseguidos políticos. "Algumas pessoas estão sofrendo processos não apenas por eventuais falhas ou irregularidades. Sofrem perseguição por terem sido meus assessores no passado."

Palocci comentou que a ação política ficou clara no dia em que Buratti depôs em Ribeirão. "Fitas do depoimento foram transmitidas a uma rede de TV por pessoas da Polícia Civil. Sei o nome delas, quem autorizou. Mas não vou falar. Não quero conturbar o ambiente político. Quero, ao contrário, evitar qualquer tipo de ampliação do conflito político, até para que as CPIs e o Ministério Público possam chegar à verdade dos fatos."

"Se eu, como ministro da Fazenda, processar um jornalista que falou uma coisa incorreta, processar uma pessoa que fez um depoimento inverídico, vou, de certa forma, utilizar o peso do ministério contra as investigações", destacou. Ele acrescentou que não quer "constranger nenhum jornalista, órgão de imprensa, ninguém".

A respeito de Marcos Caldeira - que, segundo a CPI dos Correios, recebeu mais de 30 telefonemas do empresário Marcos Valério de Souza -, Palocci disse que só existe a questão dos telefones. E frisou que não é ligado a ele. "Marcos Caldeira é representante dos contribuintes no Conselho de Contribuintes, não do Ministério da Fazenda. Mas vamos apurar. Em princípio, receber telefonemas não significa responsabilidade, nem a elimina", asseverou.

Em relação ao irmão Adhemar Palocci, suspeito de intermediar seguros de estatais para a Interbrazil, que contribuía com o PT, o ministro nem citou o nome dele. Também não respondeu nada a respeito da suspeita de que sabia que donos de bingo angolanos contribuíram com US$ 1 milhão para o PT.

Palocci defendeu Juscelino Dourado, seu ex-chefe de Gabinete, também suspeito de irregularidades. "Era funcionário administrativo, pessoa de muita transparência, prestou todos os esclarecimentos à CPI. Não pedi para Juscelino sair do ministério. (A ex-superintendente do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto, Daerp) Isabel Bordini é técnica dedicada e honrada. Muitas vezes são atribuídas a essas pessoas denúncias e elas não têm sequer o direito de se defender."