Título: Presidente do PP admite que recebeu R$ 700 mil do PT
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Nacional, p. A11

Os depoimentos de ontem no Conselho de Ética do presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), e do assessor da liderança do partido na Câmara, José Claudio Genu, agravaram a situação dos parlamentares da sigla que respondem a processo por suposto envolvimento no escândalo do mensalão. O caso mais grave é do deputado Pedro Henry (MT), que foi desmentido por Corrêa e Genu. Henry tem dito que desconhecia o fornecimento de recursos do PT para o PP, o que voltou a afirmar durante todo o dia. Mas, Corrêa afirmou ao conselho que toda a direção partidária, incluindo ele, Henry e José Janene (PR), líder do PP na Câmara, sabia que recursos financeiros oferecidos pelo PT foram aceitos. "A situação dos três se complicou muito. O Pedro Corrêa falou claramente que o Janene, na condição de líder, informou todo mundo", afirmou o deputado Orlando Fantazzini (PSOL-SP), relator do processo contra Henry.

Outro episódio que agravou a situação dos parlamentares do PP foi o envio de carta assinada por Corrêa, na condição de presidente do partido, ao Conselho de Ética, na qual confirma que em três ocasiões Genu buscou recursos no Banco Rural, em Brasília, e assinou os respectivos recibos, atendendo solicitação do PT "na implementação dos auxílios financeiros negociados com aquele partido e o Partido Progressista". O dinheiro, escreve Corrêa na carta - um total de R$ 700 mil -, foi deixado na sede do PP. "É uma confissão de culpa", classificou Fantazzini.

Corrêa disse que os recursos não foram para o partido, mas para pagar os honorários de Paulo Goyaz, advogado do também deputado Ronivon Santiago (AC), que responde a processos e corre risco de ser cassado. "Não fiz caixa 2, nem cometi crime eleitoral, tributário ou penal. Tínhamos conhecimento que o dinheiro vinha do PT. Eu não conhecia nem sabia quem era Marcos Valério", afirmou Corrêa, acrescentando que também nunca havia ido ao Banco Rural. "A única relação que tenho com o Rural são notas promissórias da compra de um pônei em Pernambuco."

Corrêa afirmou ainda que os R$ 700 mil recebidos pelo PP não foram contabilizados. Ele justificou a atitude alegando que o PT ficara de formalizar a operação. Apesar de afirmar que recursos foram aceitos, Corrêa insistiu que jamais houve compra de deputados do PP para apoiar projetos do governo na Câmara. "Eu, inclusive, nem estava presente em situações polêmicas. Não recebi vantagem indevida nem para mim nem para outros."

Genu reafirmou que foi quatro vezes ao Banco Rural pegar recursos, assinou os recibos mas nunca abriu os envelopes para confirmar o que havia dentro. Os R$ 700 mil, relatou Genu, foram entregues ao ex-contador do PP, Pedro Barbosa, já falecido.