Título: Ruralistas barram votação de relatório
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Nacional, p. A14

Parlamentares da bancada ruralista que integram a CPI da Terra conseguiram barrar ontem a votação do relatório apresentado pelo deputado João Alfredo (PSOL-CE). Na retomada dos debates, prevista para amanhã, querem incluir no texto recomendações para que o Ministério Público Federal indicie José Rainha Júnior, um dos principais líderes do Movimento dos Sem-Terra, e os dirigentes da Associação Nacional de Cooperativas Agrícolas (Anca) e da Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária (Concrab) - entidades ligadas ao MST. Tanto Rainha quanto os dirigentes das duas entidades teriam desviado recursos obtidos do governo federal. Os ruralistas também vão apoiar a proposta do presidente da CPI, senador Álvaro Dias, para que a Anca e Concrab sejam obrigadas a devolver aos cofres públicos a quantia de R$ 18 milhões, que teria sido desviada de suas finalidades originais.

O relatório de João Alfredo, um volume com 774 páginas, cujo foco principal é a defesa da reforma agrária, causou irritação entre os ruralistas. Eles apresentaram vários pedidos de vistas, o que levou ao adiamento da votação.

O pedido de indiciamento dos dirigentes dos sem-terra foi uma reação dos ruralistas à recomendação do relator para que o MPF indicie o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia. Segundo o relator, a UDR estimula a violência.

Os ruralistas são maioria na CPI. Na opinião do senador Sibá Machado (PT-AC), aliado do MST, a força dos ruralistas é tão grande que eles podem inverter o relatório, aprovando um texto favorável à UDR. "Se não fecharmos um acordo, vamos perder no voto e será aprovado outro relatório", admitiu. "Nem vou me surpreender se os ruralistas propuserem o indiciamento de algum ministro do Lula."

Os ruralistas querem retirar do relatório o pedido de indiciamento e incluir um texto que qualifique a invasão de terras produtivas como um ato de violência.