Título: Pesquisas dão vitória a Sharon
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Internacional, p. A16

Várias pesquisas de opinião publicadas ontem pela imprensa israelense indicam que o novo partido do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, conquistará a maioria das cadeiras na próxima eleição parlamentar, que ontem foi marcada para 28 de março. Se as pesquisas forem confirmadas, ele poderá, formar uma coalizão e assumir um terceiro mandato como chefe de governo. Pelo sistema parlamentar, cabe ao partido vencedor a formação do gabinete. De acordo com sondagens dos diários Yedioth Ahronoth, Haaretz e Maariv, o partido chamado provisoriamente de Responsabilidade Nacional elegeria de 30 a 33 deputados no Parlamento (de 120 lugares) enquanto seu maior rival, o Trabalhista, liderado pelo sindicalista Amir Peretz, teria 25 ou 26.

O Partido Likud, do qual Sharon se desligou para fundar a nova agremiação, teria apenas de 12 a 15. Só em dezembro o Likud escolherá o novo líder, tendo como candidatos mais cotados para suceder Sharon o ex-primeiro-ministro Binyamin Bibi Netanyahu, o atual chanceler Silvam Shalom e o ministro da Defesa, Shaul Mofaz.

Enfraquecido por sua iniciativa de entregar a Faixa de Gaza ao controle da Autoridade Palestina (AP), Sharon deixou o direitista Likud na segunda-feira, levando consigo 14 dos 40 deputados do partido que ajudou a fundar 30 anos atrás. Ele definiu o Responsabilidade Nacional como liberal, de centro, e espera tirar votos dos Partidos Trabalhista (centro-esquerda) e Shinui (liberal), em cuja base política a retirada de Gaza teve forte apoio. Segundo a agência France Presse, no meio jornalístico de Israel comenta-se que o nome definitivo do partido de Sharon será Kadimah (Para a Frente, em hebraico).

Também na segunda-feira, depois que os trabalhistas se retiraram da coalizão de governo, Sharon pediu ao presidente Moshe Katsav que dissolvesse o Parlamento e antecipasse as eleições, previstas para novembro de 2006.

Apesar de as pesquisas apontarem um cenário positivo para Sharon, os comentaristas na imprensa israelense observaram ontem que esse apoio - que tem como contrapartida a forte queda do Likud - pode esvair-se assim que a campanha eleitoral esquentar. Além disso, historicamente em Israel novos partidos não costumam sair-se bem na primeira eleição que disputam. Ontem a troca de farpas já indicou que a disputa será acirrada.

Os novos membros do partido de Sharon, incluindo ministros, deram entrevistas dizendo que seu objetivo será seguir com a última iniciativa de paz para a região, o mapa da estrada - que conduz a dois Estados, Israel e Palestina - e firmar as fronteiras de Israel. "Toda sua vida ele (Sharon) lutou por fronteiras seguras, para garantir paz e segurança", disse o ministro das Finanças, Ehud Olmert, à rádio militar.

Por sua vez, Netanyahu - considerado o favorito para liderar o Likud - , tachou Sharon, seu arqui-rival, de ditador. " Que importa se o ditador tem um tipo de sorriso ou aquele tipo de senso de humor? É um ditador que conduz o país à tirania, à corrupção e põe a segurança em perigo", disse Netanyahu. Olmert retrucou, dizendo que Netanyahu não tem a força para liderar o país. "Bibi é um homem que não sabe enfrentar nenhuma pressão. Com a menor pressão ele desmancha", disse Olmert.Tanto Netanyahu como Sharon enfrentaram acusações de corrupção em seus governos.

Analistas políticos israelenses especulam que Sharon, se de fato vencer a eleição, provavelmente não procurará formar uma coalizão com o Likud mas se aproximará dos trabalhistas e do Shinui.