Título: Para ONG, Estado quer desviar foco do problema
Autor: Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Metrópole, p. C1

A secretária-executiva da Comissão Teotônio Vilela, Maria Gorete Marques de Jesus, disse que as críticas do governo às organizações não-governamentais são uma tentativa de desviar o foco do problema da Febem. "Eles atacam a dona Conceição porque não têm como negar que o Tatuapé está uma vergonha. Tanto que as denúncias de maus-tratos e tortura ocorridas ali vão ser submetidas à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA)." Há uma audiência na corte marcada para o dia 29, na Costa Rica, mas a OEA já havia determinado na sexta-feira que o governo do Estado garantisse a integridade dos internos da Febem. O que não aconteceu, pelo menos na rebelião de anteontem, que terminou com 1 interno morto e 20 feridos.

Berenice disse que não está proibindo o acesso de ONGs. "Antes se permitia a entrada de qualquer pessoa. Mas agora só podem entrar representantes de ONGs que estejam desenvolvendo algum trabalho pedagógico ou profissionalizante. Representantes de Conselhos Nacional, Estadual e Municipais da Criança e do Adolescente, assim como juízes e promotores, também têm acesso garantido." Ela disse que o controle é um cuidado com a integridade dos internos.

"Havia indícios de que algo ia acontecer antes disso. Na quinta e na sexta-feira, a maior parte dos internos fez greve de fome. Querem procurar um responsável para a situação que é caótica há muito tempo."

Conceição disse, ontem, que a direção do complexo pediu a ela que falasse com os internos para que interrompessem a greve de fome. "Eles estavam protestando contra espancamentos nas Unidades 4 e 16. Falei que aquilo ia parar, pois a própria direção era contra, espancar é crime e lugar de torturador é na cadeia."

Conceição afirmou que ouviu do diretor do complexo, Nilson Gomes de Sena, na semana passada, que teria uma surpresa na terça-feira. Sena não foi autorizado a dar entrevista. Segundo a Assessoria de Imprensa da Febem, ele não se referia à rebelião, mas à entrada em vigor de medidas pedagógicas, esportivas e culturais.