Título: Na associação de mães, ato de desagravo à sua líder
Autor: Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Metrópole, p. C1

Estavam quase todos lá. Do padre Julio Lancellotti ao representante da Anistia Internacional Tim Carril. O que era mais uma reunião de entidades de direitos humanos virou um ato de desagravo a Conceição Paganele, a presidente da Associação de Mães e Amigos de Crianças e Adolescentes em Risco (Amar) e ao advogado Ariel de Castro Alves, do Movimento Nacional de Direitos Humanos. Os dois foram apontados pelo governador Geraldo Alckmin como criadores de problemas e Conceição foi acusada de incitar a última rebelião na Febem do Tatuapé. "O que esperar de um governador que defende o delegado Calandra? Só ataques aos defensores dos direitos humanos", disse Ariel.

Aparecido Laertes Calandra é o delegado do DOI-Codi acusado por presos políticos de tortura que chegou a ocupar cargo de confiança no governo Alckmin. "Quem prometeu 41 novas unidades e a desativação do Tatuapé e não cumpriu foi ele, o governador, que transfere para nós a culpa de seu fracasso."

Perto de Ariel estava Conceição. "Nunca vi governo para me dar trabalho como esse." Conceição passou o dia nervosa. Quando isso ocorre, ela come. E muito. No almoço de ontem, fez um prato de pedreiro. "O Alckmin e a Berenice vão me deixar obesa", disse ela com seus quase 80 quilos distribuídos em 1,65 metro de altura.

Dona Conceição, que é viúva e tem seis filhos, criou a Amar em 1998, depois que o filho caçula virou interno da Febem. Ao saber da decisão da Fundação de investigá-la, reagiu. "Desse pessoal, que não respeita as crianças e os adolescentes, eu espero tudo." Conceição afirmou que "eles vão ter de provar o que dizem" e que vai "processar o governo".

A associação de Dona Conceição ocupa duas salas do edifício Andraus, no centro. Foi lá que o ato ocorreu. "A Febem só é prioridade para o governo quando os jovens estão em cima do telhado", disse Ariel.

Durante o ato, as entidades prometeram levar o que chamaram de "ameaças a defensores dos direitos humanos" e "tentativa de desqualificar as organizações" à Corte Interamericana de Direitos Humanos. A Anistia Internacional informou estar preocupada com a gravidade da situação. "Isso aumenta a vulnerabilidade dos defensores dos direitos humanos. Vamos fazer um campanha internacional contra isso", disse Carril.